quinta-feira, 21 de maio de 2015

E viva os butecos!

Por Moacyr Luz.
Copiei - descaradamente e sem pedir licença - do Bar do Tulípio 

Crônica

O Pilórdia oferece essa crônica a Sérgio Pitbull.

Acompanhando a tendência mundial de crises, depressões e outros arredores da mente humana, também tenho minhas ações em baixa, minhas taras, meus fetiches. Entre tulipas de cliper e nadir figueiredo resolvi confessar o mais latente: 
- sou fanático por dono de bar mal humorado. Babo na gravata!

Aqueles que não acham graça nem do Chico Anísio em início de carreira, não esboçam qualquer reação mesmo ganhando a sena, uma milhar invertida na lembrança do finado parente. Nada. Sobrenome: Sisudo.



Meu amigo Baiano repete a história do Seu Ernesto, dono da única birosca de Caraúbas, distante reduto da Paraíba. Diz que o sujeito era tão grosseiro que quando a esposa falou dos fundos da casa se podia por a sopa no prato, ele respondeu:
- Ponha não, jogue no chão e traz varrendo.

Aqui no Rio, pude conhecer o Jóia, dono do bar do mesmo nome, escondido atrás da Central do Brasil. Ele detestava que chamassem o estabelecimento de bar, preferia casa de pastos. Na minha primeira visita ao quase museu etílico, querendo ser gentil, perguntei se podia sentar na cadeira. E ele:
- O meu amigo, se preferir sentar na mesa e pôr os copos na cadeira, é opção sua.

Ainda escutei mais dois foras até me apaixonar de vez. Só pode ser doença.



Severino, garçom, mas quase dono do Paladino, só serve um chope depois de fumar escondido na escada oposta do bar. E ainda guarda uma última baforada pra soltar na tua mesa:
- Não gostou? Reclama com Dráuzio, o dotô.

Falando sério. Dono de bar muito prestativo, no limite do puxa-saco, me dá cansaço. O buteco fica sem personalidade.

Frequentei um botequim aonde o dono, sabendo dessa minha mania de escrever, insistiu que eu revisasse um rascunho manuscrito com pretensões de virar livro. Título já tinha: Fregueses e Suas Imbecis Perguntas.

Algumas frase eu memorizei.

- A pescadinha tá fresca? A cerveja está gelada? Tem muita batata nesse bolinho de bacalhau? O pãozinho é de hoje?

Ele apontava a folha, gesticulando:
- Será que o gajo quer que eu diga a verdade? Não, tô servindo o peixe, mas ele tá podre! Ou, olha, meu amigo, no momento nosso estoque só dispõe da cerveja Vesúvio: sai em lavas, fervendo e esse bolinho é bacalhau puro, da Noruega, o lombo!



Abro um parênteses por pertencer à mesma calçada. Também não tenho paciência pra taxista íntimo, aquele que te cutuca na perna, aperta o teu braço e põe o rádio alto numa estação evangélica. Desses que querem te convencer de absurdos como, o Pelé é branco, e faz um itinerário estilo Julio Verne: A volta ao bairro em 80 minutos.

Outro dia chiei do ar-condicionado. O motorista garantiu que em cinco minutos estaria tinindo:
 - Um polo norte! 

Passado o tempo, eu suando mais que personagem de Nelson Rodrigues, pergunto pelo ar, e ele responde:
- É que o senhor entrou com o corpo quente...
- Meu querido, se eu estivesse com o corpo frio teria feito sinal prum rabecão, tá?

Voltando ao balcão.

O Brasil descobriu o valor de um botequim. Hoje, qualquer restaurante fino quer incluir no letreiro essa insígnia: Buteco. Os bares têm o mesmo formato das cadeiras estilo Bar Luiz, mesa com tampo de mármore encerada pra sugerir restaurada, mas feita há meia hora na marcenaria da esquina. Colocam uns jilós a preço de caviar numa tigela de balcão, abrem uma cristaleira com cachaças mineiras e ficam definitivamente ricos, achando que São Jorge é São Benedito.

Me transformei num caçador de biroscas. Quanto mais pé-sujo, mais a boca saliva. De preferência com o dono na caixa, emburrado, de camisa encardida.

Minha tara.