domingo, 31 de maio de 2015

A Espiã da 1ª Guerra

Curiosidades em Guerra


XX - A Espiã da 1ª Guerra


Para os ingleses, Alice Dubois. Para os franceses, Pauline. Seu nome verdadeiro, Louise de Bettignies. Independente, viajada, fluente em ingles, francês, alemão e italiano e se virava bem em espanhol, russo e tcheco, era uma mulher avançada para sua época e, por sua atuação como espiã na Primeira Guerra, é considerada a precursora da luta na clandestinidade e das heroínas da Resistência Francesa na Segunda Guerra. Chegou a ganhar o apelido de Joana d’Arc do Norte.



Sétima criança de uma família de nove filhos, nasceu em 15 de julho de 1880, em Saint-Amand-les--Eaux, norte da França, na fronteira com a Bélgica. Fez excelentes estudos, apesar dos reveses de fortuna que obrigaram seu pai, em 1877, a vender a fábrica de porcelana da família. Aos 26 anos, caso raríssimo para uma francesa, ela conseguiu ser admitida no Girton College, o departamento feminino da Universidade de Cambridge e passou a ganhar a vida como professora particular, atuando em diversos países da Europa.

O arquiduque Francisco Ferdinando, que viria a ser vítima, em Sarajevo, do atentado que desencadearia a Primeira Guerra Mundial, chegou a propor a ela que se tornasse preceptora dos filhos dele. Em vão: para isso, Louise seria obrigada a abrir mão de sua nacionalidade francesa.



Como enfermeira, por vezes ela cuidava dos feridos do exército do kaiser Guilherme II, na área ocupada pelos alemães na região norte da França, desde o início da Primeira Guerra. Isso porque Louise visitava com frequência o irmão, vigário de Orsinval, próximo a Quesnoy. 

Essa capacidade de se imiscuir entre os alemães chamou a atenção dos serviços secretos, tanto da França quanto da Inglaterra. Louise foi convidada pela inteligência francesa, mas acabou trabalhando no serviço secreto britânico no MI6 onde passou por treinamento aprendendo sobre códigos secretos, tintas invisíveis, combinação sobre como indicar um ponto sensível em um mapa, como identificar as unidades alemãs, as peças de artilharia etc. Nesse período, conheceu o coordenador britânico do serviço de informações, o major Cameron, vulgo “Tio Eduardo”. Para o MI 6, Louise passou a ser “Alice Dubois”, e a rede de contatos que ela tinha a missão de estabelecer na região norte da França e na Bélgica, seria chamada “o serviço Alice”.



De Folkestone, QG dos serviços secretos aliados, ela foi para a Holanda, que se manteve neutra no conflito. Pouco antes de atravessar a fronteira belga, o oficial inglês que a acompanhava declarou bruscamente: “Se for apanhada, não poderemos fazer nada por você, mas, se isso acontecer, terá sido certamente por sua culpa. Boa sorte”. Impossível ser mais claro...

Uma empresa comercial holandesa de fachada, a Companhia Cerealista de Flessingue, serviu de disfarce e estrutura logística em Bruxelas. Outro comando militar clandestino estava instalado em Lille, no norte da França, perto de Béthune. Os centros ferroviários mereciam atenção especial, como, por exemplo, os de Tourcoing ou Lille, por onde transitavam as tropas e material alemães, rumo ao fronte de batalha.

O braço direito de Louise era uma enfermeira do norte chamada Marie-Léonie Vanhoutte, de 27 anos, conhecida como “Charlotte ” no serviço Alice. Os demais colaboradores da rede eram de profissões e regiões das mais variadas.

Em Lille, norte da França, 
foi erguido um monumento 
para Louise de Bettignies

Ao todo, “Alice Dubois” faria algumas dezenas de idas e vindas entre Folkestone e o continente. 

Léonie foi presa em 15 de setembro de 1915. Em 20 de outubro foi a vez de Louise.

As duas mulheres foram condenadas à morte em março de 1916, por espionagem. A pena foi comutada em prisão perpétua por conta da indignação que havia sido provocada pela execução de duas mulheres, a enfermeira inglesa Edith Cavell, em 12 de outubro de 1915, e a jovem patriota belga Gabrielle Petit, em 1º de abril de 1916.



Nas prisões belgas e, em seguida alemãs, um destino diferente aguardava as duas francesas. Apesar dos cuidados da companheira de infortúnio, Louise morreria em 27 de setembro de 1918, em um hospital em Colônia, Alemanha, em decorrência de uma cirurgia feita sem os cuidados mínimos de higiene, em um cárcere de Sieburg. Léonie foi libertada após o armistício e viveu por mais meio século, falecendo em 4 de maio de 1967.

Fontes