quinta-feira, 30 de abril de 2015

No Brasil tem pastel

Por David Coimbra, em seu blog.

Crônicas


No Brasil tem pastel
Acho que não existe pastel nos Estados Unidos. Isso me deixa um pouco triste. Viver num país sem pastel.

É verdade que, mesmo sob o sol do Brasil, é difícil encontrar um bom pastel. Ou eles são muito secos ou muito oleosos ou têm pouco recheio ou o recheio é simplesmente ruim. Por isso, evito comer pastel em bares e assemelhados.

Falando em assemelhados, aí está algo intrigante: o que é um assemelhado? Um lugar que é quase um bar, mas ainda não chegou lá? Nunca ouvi alguém dizer: “Estou indo ali no assemelhado da esquina, tomar uma gelada”. Eu, se tivesse um bar, colocaria o nome de Bar Assemelhado.

Mas voltemos ao nosso pastel. Os melhores pastéis são os que a minha mãe faz, mas comida de mãe não conta – comida de mãe sempre é a melhor do mundo.

No antigo refeitório da Zero Hora, quando tinha pastel, dava-se uma comoção. Lembro que o antigo editor de dupla Gre-Nal, o Renato Bertuol Barros, comia sete pastéis num único prato, junto com arroz e feijão, o que é uma combinação deliciosa.

Sete pastéis…

Uma vez, eu e meu amigo Chico Camboim estávamos em São Paulo, em deslocamento para o Rio. Íamos de ônibus, que os tempos eram de muita alegria e pouco dinheiro. Paramos num assemelhado vulgar, no mais vulgar dos endereços: na frente da rodoviária. O dono era um japonês. Japoneses são especialistas em pastel, então tive a inspiração:

– Que tal dois pastéis de carne e uma geladinha, Chico?

O Chico topou e, cinco minutos depois, lá estava aquele pastel fumegante na minha frente, um pastel inesquecível, o melhor que já provei em qualquer bar ou assemelhado, e só não diria que foi um pastel inefável porque seria exagero, em se tratando de um humilde pastel de japonês paulista.

O certo é que nós nos repimpamos com nossos pastéis e pedimos outros e a cerveja estava geladíssima, como jamais se encontra no lado de cima do Equador.

Era um rasteiro bar de japonês em frente à rodoviária, nós só tínhamos umas poucas notas amassadas nos bolsos, mas comíamos com gosto, comíamos rindo um para o outro, e eram risos de amizade e brindávamos com nossos copos de cerveja gelada e ríamos de novo, felizes com um pastel, apenas com um pastel, e com a vida. Ah, os americanos podem ter tudo o que o dinheiro compra, mas eles não têm pastel.