quinta-feira, 9 de abril de 2015

A ruína dos museus brasileiros

Por Elio Gaspari.
Transcrito de sua coluna em O GLOBO


A ruína dos museus brasileiros
O Brasil tem 3.118 museus cadastrados, mas o Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio, e o do Ipiranga, em São Paulo, estão fechados. Um, porque não tem como pagar suas contas, e o outro, porque estava caindo aos pedaços. Ambos conservam enormes acervos. No Nacional, criado em 1818, estão o meteorito Bendegó e a múmia da egípcia Kherima. O do Ipiranga guarda 125 mil peças, entre as quais o quadro “Grito do Ipiranga”, de Pedro Américo, e já foi um dos mais visitados da cidade.

Arte de ANGELI


Estranha situação: num país onde pipocam novos museus, fecham-se os melhores. Só no Rio de Janeiro inaugurou-se um, e há mais dois em obras. Tanto o Museu do Ipiranga como o Nacional são administrados por universidades que vivem de verbas públicas. Um é sustentado pelo governo de São Paulo, e o outro, pela Viúva federal, que só no Estado do Rio mantém cerca de 40 museus.

Isso acontece porque sempre que se cria um museu nomeiam-se servidores, fazem-se obras e reformas, contratando-se empreiteiros. Essa é a parte saborosa. Cuidar do que já está pronto, ou trabalhar nos acervos, dá trabalho, não rende publicidade, muito menos inauguração. Há tempo, um ilustre escritor foi convidado para dirigir o Museu Nacional de Belas Artes e, ao saber que não teria carro oficial, recusou o cargo. A reforma do MNBA começou em 2004 e só terminará depois das Olimpíadas. Felizmente, continuou aberto.

Arte de SPONHOLZ


Nos anos 1930, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss viajou pelo Brasil e juntou mais de duas mil peças indígenas. Ao voltar para Paris, teve que deixar a metade em Pindorama. Do que ficou aqui, perdeu-se quase tudo. Em alguns casos, as peças quebraram-se, e, na maioria, perderam a identificação. O que foi para a França está devidamente catalogado e preservado no museu do Quai Branly.