segunda-feira, 23 de março de 2015

O governo em seu labirinto

Por Sandro Vaia.

O governo em seu labirinto
A sensação de apertem os cintos que o piloto sumiu espalha-se pelo país.
A gigantesca manifestação de domingo deu um nó na cabeça do governo e desorientou a militância virtual do PT, que nunca antes na história deste país poderia imaginar a existência de uma tão enorme elite branca de olhos azuis, preconceituosa, racista e fascista.



Quem poderia imaginar que tanta gente no Brasil odeia ter que viajar de avião sentado ao lado de um pobre?

A sociologia de porão saiu procurando chifre em cabeça de cavalo e, como não poderia deixar de ser, encontrou algumas exibicionistas com os seios de fora a alguns gatos pingados pedindo a volta dos militares. Abriram a lente sobre as patologias sociais e tentaram ampliar as exceções para transformá-las em regra.

A possibilidade estatística de que existam alguns pontos fora da curva numa multidão de 2 milhões de pessoas é bastante considerável.



Nas marchas chapa branca da sexta feira anterior estavam todos disciplinadamente de vermelho repetindo palavras de ordem decoradas, mas quem estivesse procurando patologias sociais com lente de aumento encontraria muitos madurinhos, muitos chavezinhos, muitos guevarinhas, tão anacrônicos quanto a turma da “intervenção militar”.

Sociedades abertas e democráticas são assim mesmo. Conviver com as diferenças faz parte do jogo.



Assim como faz parte do jogo bater panelas enquanto dois ministros são designados para ir à televisão e interpretar shakesperianamente as suas versões particulares de democracia. To be or not to be, versão Cardozo e versão Rossetto. Quem foi que disse que o blábláblá deles tinha mais substância do que o barulho de colheres batendo no fundo das panelas? No fundo, no fundo, as panelas tinham mais a dizer do que eles.

Depois das tentativas naturais de esticar e de encolher a Avenida Paulista. Onde cabem 3 milhões de festivos LGTBs e 2 milhões de cantores de “Feliz Ano Novo” e não mais de 210 mil opositores do governo, chegou-se a um consenso que mais milhão menos milhão, essa foi a maior manifestação pública nas ruas do Brasil depois da campanha das Diretas Já. Isso não é pouco, mas pode não ser nada, se você cair na conversa de que, afinal de contas, todos estavam lá porque foram manipulados pela mídia.



Mídia essa que, na concepção democrática do presidente do PT, jornalista Ruy Falcão, deveria ser devidamente castigada com o corte de anúncios oficiais por ter se atrevido a noticiar o que estava acontecendo, sem tirar nem pôr.

Mas o governo, mais inspirado do que nunca, não parou de desfiar o seu rosário de desastres – o maior número de bobagens acumulado em tão curto espaço de tempo.



Após a constatação de que apenas 13% dos brasileiros acham o governo bom, deixou-se vazar um documento interno do Planalto criticando a política de comunicação, escancarando o esquema de manipulação dos blogs sujos e exortando o governo (ou o partido, o que dá na mesma) a iniciar uma grande virada a partir da aplicação maciça de recursos de propaganda na desastrada administração Haddad, em São Paulo, onde se localiza, na visão do estrategista que escreveu o documento, a maior resistência ao governo no país.

Arte de SINFRONIO


Mal o documento confidencial e interno começava a ser discutido, quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, depois de um áspero bate-boca com o ministro da Educação Cid Gomes no plenário, sentiu-se autorizado a anunciar a sua demissão ao País, antes mesmo que a presidente o fizesse. De fato, ela estava muito ocupada em anunciar o enésimo pacote anticorrupção do governo petista, que criminaliza o que sempre foi crime e que não salvou nem salvará a Petrobrás do saque organizado com participação do próprio PT.



A sensação de apertem os cintos que o piloto sumiu espalha-se pelo país, ao mesmo tempo em que o governo não consegue achar a saída de seu labirinto.