quinta-feira, 12 de março de 2015

A onda contra Dilma

Por Gaudêncio Torquato, em seu Porandubas Políticas


A onda contra Dilma
Os nomes se multiplicam : panelaço, buzinaço, apitaço, vaias, apupos, palavras de ordem, gritos fortes nos centros e ecos que chegam às margens. Essa é a onda contra Dilma, cujo índice de avaliação, na grade boa/ótima, chega a um dígito, portanto, baixo de 10%. O governo vai mal das pernas. E da cabeça. A indignação sai do epicentro da sociedade - classes médias - e vai chegando às margens, obedecendo ao fenômeno dos círculos concêntricos ou, ainda, ao movimento produzido pela pedra jogada no meio do lago. As marolas formadas chegam às margens. A observação é procedente, bastando ver que, há três ou quatro meses, a insatisfação restringia-se basicamente ao centro social.


Arte de EDRA

A onda de contrariedade obedece a alguns empuxos, a algumas alavancas. Na frente delas, a carestia. A inflação alta na área de alimentos bate forte nos bolsos dos grupamentos C, D e E. Que se defro
ntam com produtos hortifrutigranjeiros caros. A paralisação dos caminhoneiros esvaziou gôndolas e encareceu produtos, em alguns casos, em mais de 50%. A barulheira em torno dos dutos de propina da Petrobras funciona como bumbo nos ouvidos de todas as classes sociais. Quanto roubo, quanta malandragem, milhões aqui, bilhões ali são ecos que chegam forte nos ouvidos dos centros e das margens. O governo e os políticos acabam sendo vitimados pelo tiroteio social.

Arte de MYRRIA


Para adensar o empuxo, emergem as crises setoriais : a crise hídrica, a crise energética (a ameaça de apagões), a crise política, todas arrastadas pelo rolo compressor de uma economia devastada. Joaquim Levy esperava que as coisas fossem mais fáceis em matéria de ajuste econômico. Dos 111 bilhões que espera arrecadar com seu pacotão, cerca de 25 bilhões dependem do Congresso Nacional. Como se deduz, o Congresso não cederá aos argumentos que a equipe econômica levanta. Como se viu na devolução da MP 669. Como se vê no repúdio das MPs 664 e 665, assumido publicamente por empresários e centrais sindicais, em grande reunião feita segunda feira passada na FIESP.

Arte de AMORIM


A crise política que se desenvolve na esteira da lista do procurador Rodrigo Janot deflagra algumas consequências: deputados e senadores tendem a assumir uma postura de maior independência em relação ao Poder Executivo, deixando, assim, de serem meros agentes de convalidação das matérias encaminhadas pelo Palácio do Planalto. Para efeito de opinião pública, o corpo parlamentar, mais independente do Executivo, será bem visto, principalmente nesse momento em que a chefe do Executivo é o alvo principal do bombardeio que parte da sociedade.

Arte de CLAYTON


O impeachment, como se sabe, é um ato político. E, claro, o ato político recebe impulso quando as forças vivas da nação se integram, em uníssono, em torno de um empreendimento como o de retirar alguém legalmente escolhido pelo povo para governá-lo. Não há fato concreto que possa incriminar a presidente da República. Essa versão de que sabia disso e daquilo sobre propina, como se pode concluir, é matéria polêmica. A culpa por irresponsabilidade na gestão pública também é objeto de muita discussão. Ao contrário de denúncias e provas de que fulano, beltrano e sicrano receberam recursos em espécie de outros fulanos e empresas. Sob essa teia complexa, o fato é que o impeachment da presidente é mais torcida de segmentos e setores que probabilidade política.

Arte de SPONHOLZ


Conchavo
Premido pelos casuísmos, Tancredo Neves foi obrigado a fundir o seu PP com o MDB de Itamar. Alguns pepistas pularam do barco e protestaram alegando conchavo. Tancredo foi curto e seco : "Conchavo é a identificação de ideias divergentes formando ideias convergentes". Tinha razão. Há curvas que desembocam em retas.

Petrolão : onda crescerá ?
A imagem que o petrolão sugere é a de um tsunami no meio do oceano: pode amainar ao chegar à praia ou ganhar mais volume e arrebentar o território. Não há ainda condição de enxergar qual a alternativa. É possível que crie situações embaraçosas para outras figuras de porte da República ? Sim. E poderão tais figurantes entrar na lista de implicados? A resposta, nesse caso, será política. Qualquer decisão nessa direção vai depender da temperatura econômica do momento em que tais revelações ocorrerem (se ocorrerem). Pelo visto, essa grande onda atravessará mais que um par de anos. Chegará às margens de 2018. E poderá fazer naufragar projetos eleitorais de um ou outro. Se o leitor estiver pensando em Lula, acertou na mosca.

Arte de J.MARCOS


Renan e Cunha
Não se pense que os presidentes do Senado e da Câmara, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, perderão seus vetores de força porque foram incluídos na lista de Janot. Continuarão a presidir as Casas Legislativas durante toda a legislatura. E com maior independência. A conferir.

Mercadante e Pepe
O ministro Aloísio Mercadante começa a ser demonizado, atribuindo-se a ele a razão principal da desarticulação política. Pode deixar a articulação política e ficar apenas na área administrativa ? É possível. Será que tem faltado habilidade ao poderoso chefe da Casa Civil ? Ou será que o conjunto de crises do momento - política, econômica, hídrica, energética, de credibilidade, petrolão - não tem sido o motor quebrado que inviabiliza a máquina da articulação política ? Esta mesma referência serve para abrigar o ministro Pepe Vargas. Dizem que é um bom sujeito.



Um nome adequado
Eliseu Padilha tem o dom da articulação política. Henrique Alves, ex-presidente da Câmara, também tem seu nome citado para as Relações Institucionais. Ambos do PMDB. Seriam nomes adequados para fazer a ponte entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Mas os petistas topariam um peemedebista nesta função ? Eis a questão.

Núcleo institucional
É do vice-presidente Michel Temer a ideia de a presidente Dilma formar um núcleo institucional, a ser integrado por ministros próximos a ela e mais os líderes partidários. Trata-se de abrir a análise da conjuntura política com quem efetivamente tem poder de mando e controle no Congresso. A presidente aceitou a sugestão, sem prejuízo de continuar a se valer de seu núcleo duro.

Arte de NANI


Tofolli no comando
A mudança do ministro Dias Toffoli para a segunda turma lhe conferirá a participação na operação Lava Jato. Toffoli pediu a transferência. Vai ganhar muita visibilidade. E será objeto de polêmica.

O dia da CUT
Será sexta, dia 13. Vai para as ruas lutar contra as MPs 664 e 665 e, de sobra, defender a Petrobras. Defender de que ? De ameaça de privatização. P.S. A petroleira está vendendo ativos para apurar uns 30 bilhões e suprir seus esvaziados cofres.

Arte de DUKE


O dia da mobilização
Domingo, dia 15, as ruas de muitas capitais serão ocupadas por gente de todos os calibres. Não serão apenas classes médias e elite branca, como alguns pregadores vêem.

Fim das coligações proporcionais
Senado avança na reforma política, aprovando o fim das coligações nas eleições proporcionais (deputados Federais, estaduais e vereadores). O objetivo é fortalecer os partidos e acabar com as trocas fisiológicas e arrefecer as siglas de aluguel.