quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O dia em que uma cinta-liga substituiu a Bandeira do Brasil !

Em 1825, após extensas negociações diplomáticas, D. Pedro I obteve o reconhecimento de nossa independência pela Inglaterra e Portugal. 

Desde janeiro de 1822  havia sido criado o Corpo de Estrangeiros como uma divisão do Exército Brasileiro constituído inicialmente de imigrantes suiços de Nova Friburgo e de estrangeiros de passagem ou morando no Rio de Janeiro. E com a normal desconfiança inspiradas nas nossas forças militares formadas por portugueses e, após a nossa independência, o Imperador decidiu reforçar essa Brigada.




Contratou-se mercenários alemães que foram recrutados pelo major Georg Anton von Schäffer na Europa, em sua maioria desempregados com o fim das guerras napoleônicas.

Eles foram instalados no quartel do Campo de Santana e na velha fortaleza da Praia Vermelha.

O fato daria uma importância extraordinária ao desfile cívico daquele ano, no Campo de Santana, a ser aberto pela tropa dos temidos mercenários alemães, designados como Batalhão dos Caçadores.

Além de truculentos, esses soldados era insubordinados e bagunceiros, dando mais prejuízo que segurança ao País. O mais esculhambado deles era justamente o comandante do quartel da Praia Vermelha, Major Edward Von Ewald.

Amigo pessoal de D. Pedro I, era seu cúmplice nas esbórnias noturnas que promoviam nas tavernas da cidade. Bebedor e falastrão, Von Ewald se apaixonara por uma famosa e rica prostituta - Gertrudes - que morava numa luxuosa chácara na Praia de Botafogo.




De início, Gertrudes delicadamente o repeliu e então Ewald resolveu demonstrar seu poder e autoridade: passou a organizar desfiles das tropas alemães diante da casa dela. Seduzida por tal devoção, a prostituta cedeu aos desejos do Major - certos autores identificam aí a origem da expressão "topou a parada", que passou a ser usada primeiramente em tom de galhofa e depois se integrou ao nosso vocabulário popular. Mas para se tornar amante regular de Ewald, a rameira exigiu uma outra prova de amor...

No dia do desfile da Independência - 12 de outubro (*) - , todas as autoridades e milhares de pessoas assistiam à tropa dos alemães entrar garbosa no Campo de Santana, trajando seu uniforme de gala, quando ocorreu a estupefação geral. 

No lugar do pavilhão nacional, a bandeira do Brasil ostentada pelo batalhão, pendia um apetrecho nada cívico: as cintas-ligas de Gertrudes, ali colocadas por Von Ewald como prova de amor a sua exigente meretriz.



Após o desfile, D. Pedro I mandou prender o Major Von Ewald, rebaixou-o de posto e o sentenciou a uma surra de vara (costume da época). O alemão chegou a fugir, mas logo foi recapturado. Poucos dias depois, o imperador o perdoou e tudo voltou a ser como antes, inclusive as bacanais e porres da dupla. E não podemos esquecer que o imperador mantinha com dinheiro público duas amantes: a Marquesa de Santos e sua irmã, a Baronesa de Sorocaba. Não seria ele quem iria querer moralizar coisíssima nenhuma.


(*) Naquela época o desfile cívico de comemoração da Independência não era realizado em 7 de setembro, mas em 12 de outubro - data da Aclamação do Imperador.