É de senso comum que a expressão "Santinho do pau oco" significa aquele ou aquela que é hipócrita, falso e nada confiável e surgiu em nosso país há cerca de três séculos, no início do século XVIII.
Arte de Newton Silva
Mas você sabe a sua origem? e o legado que foi incorporado na formação de nosso país, no que tem de mais negativo?
Corrupção, propina, superfaturamento, caixa 2...
Pode até parecer mas esse POST não foi inspirado no ex-presiMente Lulla, no PT, na Dilma, no Petrolão, etc...
Mas vamos lá.
Mas vamos lá.
No fim do século 17 a produção açucareira no Brasil enfrentou uma séria crise devido à prosperidade dos engenhos açucareiros nas colônias holandesas, francesas e inglesas da América Central. Como Portugal dependia, e muito, dos impostos que eram cobrados da colônia a Coroa passou a estimular seus funcionários e demais habitantes, a desbravar as terras ainda desconhecidas em busca de ouro e pedras preciosas.
Com as primeiras descobertas nos sertões paulistas e na região onde hoje situa-se o Paraná iniciou-se então a primeira “corrida do ouro” da história moderna. A quantidade de gente aportando no Brasil, e deixando Portugal, era tamanha que em 1720 a população local saltou de 300 mil para 2 milhões de habitantes.
Com a descoberta das minas auríferas iniciou-se a criação das Casas de Fundição onde o ouro era transformado em barras cunhadas com o brasão real e ampliou-se ainda mais o controle - que existia desde o descobrimento - da cobrança de impostos então intitulado de "o Quinto" o que equivalia a 20% do que era produzido.
Com a intensificação da cobrança do QUINTO intensificou-se também o desvio/sonegação visando fugir à sua cobrança. Como, oficialmente, o ouro só podia circular em barras os mineradores passaram a pulverizar e transformá-lo em pó ou mantê-las na forma de pepitas (pequenas pedras) para facilitar o transporte clandestino.
Inicialmente usavam alforjes de couro e vasos de barro mas que eram difíceis de serem transportados em segurança e foi que a partir daí entrou em cena uma nova parceria - os contrabandistas e a Igreja Católica.
Como a fiscalização portuguesa era rigorosa nas minas e nas cidades onde circulavam essas riquezas, os contrabandistas passaram a usar o recurso de rechear esculturas sacras com ouro em pó, diamantes e outras pedras preciosas e transportá-las para locais distantes, burlando a cobrança dos "quintos" exigidos por Portugal - foi criado assim o Santo do pau oco.
E eis aí o principal motivo para que tenhamos essa abundância de Igrejas com detalhes riquíssimos em ouro espalhadas pelas cidades mais antigas principalmente as do estado de Minas Gerais e a capital baiana, então capital do império.
Isso mesmo, a proliferação de igrejas no Brasil durante o século 18 deveu-se mais ao contrabando de ouro que à religiosidade do povo ou a boa vontade dos Cardeais.
Templos católicos tão magníficos como os de Ouro Preto e Salvador só existem por intervenção piedosa de um generoso padroeiro: o "Santo do Pau Oco". Foi pela graça dele que padres e mineradores consolidaram a mais lucrativa ferramenta de corrupção nacional: o superfaturamento.
Bem, mas como é que se fraudava o controle português para que ouro e diamantes chegassem à estátua oca? Simples! Bastava a cumplicidade das autoridades católicas.
Igreja e Convento de São Francisco, em Salvador/BA
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Exemplo: registrava-se que seria necessário o uso de 400 barras de ouro para os afrescos e ornamentos na construção de uma igreja e usava-se realmente apenas parte disso. A diferença, provavelmente abatendo-se uma comissão dos padres e bispos, era posteriormente contrabandeada.
Claro que a Igreja era parte altamente interessada e por duas razões: a própria construção dos templos patrocinada pelos contrabandistas aliada à parte que lhes cabia na participação do ato sonegador do imposto - o já chamado, também, popularmente de "O quinto dos infernos".
Portanto não é à toa que Salvador desde seus primórdios tem esta profusão de igrejas, com suas construções sendo intensificadas a partir do século XVIII, praticamente cada bairro tendo a sua e muitas vezes, mais de uma, ricamente ornamentadas.
Existe até um folclore que tínhamos aqui uma igreja para cada dia do ano. Na verdade, temos hoje 372.
Claro que a Igreja era parte altamente interessada e por duas razões: a própria construção dos templos patrocinada pelos contrabandistas aliada à parte que lhes cabia na participação do ato sonegador do imposto - o já chamado, também, popularmente de "O quinto dos infernos".
Portanto não é à toa que Salvador desde seus primórdios tem esta profusão de igrejas, com suas construções sendo intensificadas a partir do século XVIII, praticamente cada bairro tendo a sua e muitas vezes, mais de uma, ricamente ornamentadas.
Existe até um folclore que tínhamos aqui uma igreja para cada dia do ano. Na verdade, temos hoje 372.
Havia tanto ouro acumulado nos templos católicos, que nem sempre era fácil tirá-lo sem despertar a atenção dos portugueses. Não dava para levar um santinho (oco, naturalmente) todo dia para viajar. Então, os padres aumentaram o número de procissões, ocasiões em que várias estátuas podiam sair simultaneamente, levando grandes quantidades do metal.
Durante o trajeto, em meio à multidão, os contrabandistas se revezavam em carregar as imagens e disfarçadamente iam retirando o ouro e escondendo-o em embornais e alforjes de couro. Antes que a procissão chegasse ao fim, já tinham esvaziado os santos e distribuído o contrabando sem que os portugueses percebessem.
Procissão do Bom Jesus dos Navegantes, em Salvador/BA
Mas acontecia de ocorrerem acidentes e as imagens serem derrubadas e o responsável ser preso e executado quando os soldados da Coroa viam o que tinha dentro delas. Para evitar que isso se repetisse, os padres criaram a matraca, que emite um som estridente e desagradável, abafando o ruído provocado pela queda.
Uma matraca é um instrumento musical e sinalizador que, quando sacudido, produz som. É usada no Brasil, em pequenas cidades por vendedores e também na quaresma para anunciar uma procissão. O instrumento substitui os sinos na Semana Santa. Na Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, chegou a ser usada em grandes quantidades pelos insurgentes visando simular os ruídos dos tiros de metralhadoras.
Desde então, esse instrumento vem fazendo um barulho infernal em todas as procissões sob a alegação de ser o substituto ideal para os pesados sinos nos cortejos religiosos.
Pode-se dizer qualquer coisa sobre a Igreja no Brasil colonial, mas jamais que ela não tenha sido extremamente hábil e inventiva. Em proveito próprio, naturalmente.