quinta-feira, 24 de julho de 2014

... do Dunga e o bodum da copa...

Esse texto foi escrito em 2010 mas permanece atual. Aliás, em diversos momentos parece que foi escrito por esses dias. Republico.



Por André Carvalho  em 10 de Julho de 2010




Fim de jogo
Derrotados pela seleção holandesa voltamos para casa eliminados da XIX Copa do Mundo de Futebol. Perdemos para a mesma Holanda que nos castigou por cinquenta anos, desde que em 1625 invadiu e dominou, até 1675, parte do Brasil, inicialmente a Bahia e, em seguida, Pernambuco e por aqui fez história que nossos alunos de segundo grau estudam, nos dias de hoje, aos trancos e barrancos. Ironia do destino é a derrota ocorrer exatamente no dia 02 de Julho, data magna em que se comemora a Independência da Bahia, episódio que fecha o calendário de nossa sujeição a então Coroa Portuguesa e aos demais países europeus. 12

Perdemos também a vantagem que tínhamos sobre eles, os holandeses, em jogos de copa do mundo, circunstância de inestimável valor para que locutores ufanistas e comentaristas de todas as classes preenchessem o tempo, nas infindas transmissões pré e pós jogo, relembrando contendas, estatísticas e fatos de copas passadas.

Essa foi minha primeira Copa do Mundo depois da intempestiva decisão de tornar-me escrevinhador. Rabiscar sobre futebol num país de futebolistas é tarefa dificultosa para um ignorantim como eu. Sei que coloco meu pescoço a prêmio, o que não ocorre com o comentarista mor, o Lula, por mais bobagens que diga, como já fez em outras contendas não só futebolísticas.

Longe de mim a pretensão de contrapor o que disseram Inácio, Galvão ou Do Vale, os dois últimos assessorados por ex-craques e o presidente por Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia e Franklin Martins, que de craques nada têm ou tiveram.

Do Dunga posso reclamar porque todos reclamam. “Do dunga” é uma cacofonia engraçada que vou me permitir manter no texto na medida em que o “brasilzão” que torce embriagado e que vota a cada dois anos, por coerência, haverá de me perdoar pelo deslize. Dunga convocou a seleção com base em seus princípios e valores, os quais não combinam com o “brasilzão” cacofágico (eu disse cacofágico e não cacofônico).

Acontece que não deu certo e nosso técnico só não será crucificado porque brigou com a poderosa Rede Globo ao não permitir entrevistas e reportagens exclusivas, mesmo que contratuais. O povo gostou da briga! No Brasil, o complexo de Davi é muito presente. Queremos derrubar todos os Golias que aparecem pela frente e a Rede Globo é um deles. Tal qual a história bíblica atiramos pedras nos mais poderosos e acreditamos que os venceremos, mesmo que o século XXI seja totalmente diferente dos tempos antes de Cristo. O fenômeno é relevante na era petista, cujos companheiros apedrejam os Estados Unidos da América, tido e havido como nosso mais poderoso contendedor.

A seleção de Dunga era igualzinha ao Brasil: um técnico poderoso e que tudo podia, um grupo “fechado” – e bote “fechado” nisso – muito potencial e poucos resultados quando necessários. Optamos pela escalação dos menos favorecidos e somos mais imagem que conteúdo encantando o “universo bolivariano” ao mesmo tempo em que servimos à chacota do resto do mundo.

Penso que a seleção brasileira de futebol deveria ser eleita pelo povo, em sufrágio direto e universal, assim como são eleitos, com o maior sucesso, nossos representantes no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores. Afinal, todos nos representam em seus respectivos campos de atuação. Um risco é um dos eleitos roubar a bola ou subornar o gandula. Coisa pouca, perto do que temos visto!

Copa é copa e ao articulista cabe analisar. Penso que o “cala a boca Galvão” foi o melhor resultado alcançado pelo Brasil na África do Sul e deveria ser estendido ao Do Vale, à Dilma, ao Lula, Serra, Neto, Vampeta, Datena, Fátima, Bonner, Boechat e companhia.

Que me perdoem os leitores: Êh brasilzão da “porra”.


(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.