sábado, 26 de julho de 2014

Cenário político de momento

Por Gaudêncio Torquato
http://www.migalhas.com.br/Porandubas

O cenário político
O olhar na paisagem permite divisar a direção do vento. Vê-se uma gradativa queda da avaliação do governo Dilma, com tendência a bater na sua imagem e nos índices de intenção de voto. Mas a presidente continuará com a forte visibilidade, podendo resgatar algumas posições. Contará com o dobro de TV de Aécio Neves, a partir de 20/8. Terá dois imensos desafios : sustar sua crescente queda no Sudeste e sustentar seus índices no Nordeste, onde chegou a bater a oposição, em 2010, por 12 milhões de votos.

REGI

Esses três Estados constituem um desafio especial : a BA é o maior eleitorado da região nordestina. Hoje, os ventos correm em direção a Paulo Souto, candidato ao governo pelo DEM, com apoio do PMDB e do PSDB. Dilma não terá na BA a votação de 2010. O mesmo se pode dizer em relação a PE e ao CE. 

No primeiro, Eduardo Campos deverá ser amplamente vitorioso, tirando preciosos votos da candidata ; no CE, apesar de contar com o apoio dos Gomes - Cid e Ciro - e do candidato Eunício de Oliveira, do PMDB, não terá a votação de 2010, porque o PMDB está coligado com o tucano Tasso Jereissatti. Aécio vai ter boa votação na terra do Padim Ciço.

SPONHOLZ


A taxa de rejeição da presidente Dilma em SP assusta. Chega a 43% junto ao maior eleitorado brasileiro. É possível diminuir esse índice, deixando-o na metade ? Sim. Mas essa tarefa será árdua. Precisa contar com alavancas de adesão muito fortes, a partir de sensível melhora na economia. Precisa que Lula corra todo o Estado e os bairros da capital, fazendo um corpo a corpo intenso. Precisa que o prefeito Fernando Haddad melhore sua avaliação junto ao munícipe. Precisa que a candidata entre em um mutirão de corpo a corpo. Esta campanha, mais que outras, exige o candidato nas ruas.

Já é possível ver o bolso dos integrantes das classes médias mais apertado. A inflação das ruas - que se pode medir nas feiras livres - começa a ser expressa de forma indignada na linguagem de donas de casa que se queixam de uma cesta básica que encarece a olhos vistos. 

WALDEZ

É evidente que esse bolso mais apertado influi no processo decisório do voto. Como sempre lembro : bolso com menos dinheiro significa geladeira mais vazia, barriga roncando alto, coração indignado e cabeça revoltada. Daí o desafio que se impõe à presidente Dilma : evitar o estouro da boiada nas ruas.

Este consultor identifica um voto do contra se expandindo em muitos espaços. Trata-se de um voto contra o status quo, a situação de sempre, a lengalenga da velha política. Esse voto é de protesto, não necessariamente a favor de A ou B. Claro, que acaba beneficiando alguns atores da política.

Non ducor, duco. "Não sou conduzido, conduzo". O lema do brasão da cidade de SP, criado em 1916 pelo prefeito Washington Luiz, que veio a assumir, depois, a presidência da República, expressa de modo adequado a importância do Estado mais poderoso da Federação no pleito eleitoral. Ancorando a hipótese, eis densa lista de superlativos : cerca de 32 milhões de eleitores ; as mais populosas classes sociais, com destaque para três contingentes de classe média ( A, B e C) e super-povoadas margens sociais ; os maiores conglomerados de categorias setoriais, abarcando trabalhadores e profissionais liberais ; centrais sindicais e entidades de áreas produtivas ; movimentos organizados, que promovem intensa mobilização e abrem a locução das ruas ; núcleos em defesa de direitos humanos, minorias e igualdade de gêneros ; e, para dar vazão às demandas dessa gigantesca teia de representação, SP dispõe de vigorosa tuba de ressonância.



A força de SP vai além da liderança no ranking eleitoral, com seus 23% do eleitorado brasileiro. Outros parâmetros entram na abordagem. O Estado exibe o maior grupamento de eleitores racionais, fator decisivo para avanços na esfera política. A racionalidade transparece no voto ponderado, na comparação entre perfis, na cobrança aos governantes, nas mobilizações de setores e nos movimentos reivindicatórios, a denotar a emergência de uma força centrípeta que se expande. Tal percepção provém da organicidade social. Ao longo dos últimos anos, a comunidade criou múltiplas ilhas no arquipélago do poder, tornando-as canais para fazer chegar demandas aos governantes e representantes, praticando, assim, exercícios de democracia direta.

*Jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.