Pilordianos, nesta quinta, 05 de setembro, estive no lançamento do livro "Reflexões Filosóficas de Calixto" - autoria de Manoel Passos Pereira, o Manuca, uma recém adquirida , e espero que prolongada, amizade.
O evento foi abrilhantado pela participação de Mateus Aleluia e Fabíola Aleluia - pai e filha - em voz e violão, música e poesia.
Para mim um verdadeiro deleite ainda mais, aqui confesso minha total ignorância, que não os conhecia. Um amigo comum (meu e de Manuca) - Washington Falcão, coordenador do projeto do livro e em paralelo, do evento - explicou-me que Mateus Aleluia foi um dos integrantes do grupo musical Os Tincoãs.
Ignorante estava e ignorante fiquei pois este nome continuava a não me dizer nada mas como dizem por aí só fica ignorante quem quer e fui à luta e o resultado verão abaixo e espero que ao ler e ver/ouvir os vídeos tenham a mesma sensação minha ao ouvir Mateus e sua filha Fabíola Aleluia, puro deleite.
Baseei-me num texto publicado no blog do também baiano - e amigo de infância - Luiz Américo Lisboa, um dos que mais entendem da música popular brasileira.
Apresento~lhes um pequeno resumo mas sugiro lerem o texto completo O Afro Canto dos Tincoãs.
Os Tincoãs são originários de Cachoeira, cidade às margens do Rio Paraguaçu, no recôncavo baiano.
Como bem o disse Luiz Américo é sabido por todos que a Bahia é o mais negro estado brasileiro, nossas raízes culturais se confundem de tal forma como nossos antepassados africanos que podemos inclusive dizer sem receio que praticamente inexiste uma tradição cultural branca na Bahia. Em todos os segmentos que norteiam a cultura baiana, esta a presença forte de nossos irmãos africanos, basta para isso irmos da culinária, às vestimentas, danças, religiosidade e é claro na música.
Aos que não sabem, Cachoeira é cidade vizinha de Santo Amaro da Purificação, terra de Caetano e Maria Betânia, de Raimundo Sodré e Cuíca de Santo Amaro.
Os Tincoãs, cujo nome é originário de uma ave que habita o cerrado brasileiro, iniciou sua carreira em 1960 mas Mateus Aleluia veio incorporar-se ao grupo apenas em 1963 substituindo um dos integrantes originais, Erivaldo.
Renovaram o repertório e partiram para adaptar os cantos de candomblé, sambas de roda e cantos sacros católicos, porém foram os terreiros de candomblé que deram a base principal da musicalidade dos Tincoãs. Em 1973 gravam o segundo disco produzido por Adelzon Alves, e o primeiro como representantes legítimos da música afro-baiana, este LP é um marco importante da música brasileira, não apenas pela qualidade das músicas, como também pelo arranjo com características de coral feitos a partir de canções oriundas dos terreiros de candomblé, e tendo como base apenas quatro instrumentos, violão, atabaque, agogô e cabaça. Este disco também revela o talento dos componentes como compositores principalmente Mateus e Dadinho que assinam a maioria das músicas.
Um dos destaques do disco é Deixa a gira girá, canção de origem folclórica, mas adaptada pelo trio com muito talento.
Os Tincoãs - Deixa a gira girar
No ano de 1977, dois anos após terem sua música Banzo fazendo parte da trilha sonora da novela Escrava isaura, gravaram um outro disco destacando-se a música Cordeiro de Nanã de Mateus e Dadinho.
Os Tincoãs - Banzo
Os Tincoãs - Cordeiro de Nanã
Em 1983 se estabeleceram em Angola onde foram convidados pelo governo local para participarem de projetos que visava identificar valores angolanos na cultura e na música brasileira, além de estabelecer ligações entre o culto angolano e o candomblé praticado no Brasil.
Em 2000, o grupo se desfez com a morte de um de seus fundadores, Dadinho, mas deixou um legado dos mais primorosos para a música popular brasileira, como um dos principais representantes das raízes de nossa música de origem africana.
Em 2002, Mateus Aleluia volta ao Brasil envolvendo-se em projetos ligados à cultura africana no país.
Mateus Aleluia: "Tincoãs era uma identidade sendo mais gente, agora eu tinha que ser eu para ter uma personalidade", diz.
"Todos temos um lado sacro e um lado profano, o santo e o humano. É importante entendermos quem somos, daí o título "Cinco Sentidos". É um disco mais próximo de mim mesmo."
