sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


Por André Carvalho 
em 28 de janeiro de 2013


MARTELARAM O SUPERÁVIT
De quando em quando volta às manchetes a questão do sigilo que cerca o uso dos cartões corporativos por membros do governo federal. Reportagem de conceituado jornal paulista dava conta, dias atrás, que mais de 46% dos gastos efetuados através dos quase treze mil cartões em uso receberam a classificação de sigilosos, pelo caráter estratégico das despesas. Gastaram, sigilosamente, em 2012, vinte e um milhões de reais. Quando questionado sobre a natureza dos gastos o governo apela para a segurança nacional e encerra a conversa.

Para alguns cidadãos, pagadores de exorbitantes impostos, o sigilo nos gastos públicos é inconcebível. Entretanto, não existe dúvida de que o princípio da confidencialidade deve ser mantido de forma a não chocar, ainda mais, a sociedade brasileira, principalmente após sabermos dos entremeios da persuasiva secretária Rosemary Noronha.

O sigilo, qualquer deles, abre profundas brechas às especulações, estas sim, por demais críticas à segurança nacional. Meio mundo imagina coisas e mais coisas que a “cumpanheirada” compra com o milagroso e inesgotável dinheiro de plástico, circunstância que acaba levando aos exageros, o que não é o meu caso, mesmo tendo quase certeza de que compraram um martelo, enorme e pesado, produzido na China. Creio que a ferramenta foi adquirida para finalizar um servicinho.

Reminiscências me levam aos infrutíferos anos em que estudei Ciências Contábeis, quando, nas aulas de contabilidade e análise de balanço, era comum ouvirmos a expressão “a martelo” para definir um demonstrativo inconsistente ou manipulado. No jargão contábil dizia-se um balanço “fechado a martelo”.

Todos sabem, até mesmo a revista inglesa The Economist, que o governo federal usou de artifícios contábeis para fechar as contas públicas de 2012. Os Ingleses, elegantes como sempre, referem-se à manobra pouco convencional como “contabilidade criativa” enquanto o ex-ministro Delfim Neto, consultor informal dos governos petistas, a classifica como uma irritante e imaginosa operação para fingir o cumprimento do superávit primário.

Sou mais direto! Na verdade, curto e grosso: juntando alhos com bugalhos deduzo que o governo de Dona Dilma fechou o balanço de 2012 “a martelo”, tal e qual uma bodega da esquina ou uma empresa fraudulenta. Uma martelada que deveria passar despercebida, assim como os gastos com os tais cartões. Mas, não foi o caso!

Deve haver ministros e burocratas do escalão abaixo com calos nos dedos, tantas foram as marteladas que deram. Outros podem estar com assaduras nas mãos tantas foram as chineladas que levaram. Dizem, não sei se é verdade, que um ex-presidente de companhia estatal chorava a cada chibatada recebida. Não sem razão, apiedam-se os amigos, e não sem razão, escracham seus inimigos.

A situação é trágica e o esquema cômico. Transformamo-nos em um país sui generis onde os números e a ciência econômica pouco valem diante do poder central. Tão ruim quanto o uso do martelo é ter a inflação controlada por telefone. Funciona assim: a Presidente Dilma liga para o Prefeito de São Paulo e manda (o poste maior manda no poste menor) não aumentar a tarifa dos ônibus. Depois liga para a Presidente da Petrobras e manda segurar o aumento no preço dos combustíveis. O Ministro da Fazenda liga para o Governador de São Paulo e pede, com o rabinho entre as pernas, para que não aumente a tarifa do metrô. Um outro figurão do Palácio telefona para o alcaide da cidade do Rio de Janeiro e sugere a manutenção do preço da passagem do transporte coletivo. O governador de Pernambuco, coitado, não aguenta mais ligações em busca de apoios e “refrescos”.

Voltamos, pelo visto, ao controle de preços da época do presidente Sarney e do seu ministro Dílson Funaro. Lembram-se de uma maluquice chamada Plano Cruzado? Pois é...

Liga para um, liga para o outro e eu fico imaginando se ainda vivêssemos à época da Telebrás, a dona da telefonia estatal antes das privatizações de Fhc. Ia faltar linha telefônica e sobrar o risco de repique da inflação, como ocorria lá e então.

Às vésperas do carnaval é bom gritar: segura aí geeeeente...