terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Por afogamento...

Por André Carvalho (*)
Em 28 de dezembro de 2012
 
 
 
POR AFOGAMENTO...
Este artigo, que tem seu começo no parágrafo abaixo, foi escrito no início de novembro de 2012. Optei por não divulgá-lo, como faço por vezes. Relendo-o agora percebi que seu tema continua vigente. Em sendo assim...
 
“Jamais aprendi a nadar ou a boiar, uma incompetência que por duas vezes, aos dez e aos dezenove anos, me levou a situações de quase afogamento: primeiro na lama do rio que corta o município de Dias D’Ávila depois na piscina de uma residência aqui em Salvador. O desespero em tal circunstância é aterrador e à vítima não cabe outra saída senão debater-se buscando ajuda.
 
Lembranças desagradáveis de fatos ocorridos há mais de quarenta anos me veem à tona por conta do momento político que atravessamos. Afogado na lama do mensalão e na correnteza de incompetências de seu governo – vide Petrobras, transposição do rio São Francisco, política energética, trem bala, aeroportos, rodovias, educação, saúde e segurança – o ex-presidente Inácio da Silva debateu-se e emitiu desesperados pedidos de socorro, até calar-se.
 
charge de Roque Sponholz
 
 
De visitas sigilosas para pressionar ministros do Supremo Tribunal Federal, passando pela exigência aos aliados de uma carta de desagravo, até o inescrupuloso incitamento da militância do seu partido para que tomasse as ruas e as redes sociais em defesa de sua quase inexistente honra, Inácio da Silva mostrou o pavor do afogamento. No seu caso, diferente do meu, um afogamento político, histórico e, sobretudo, moral.
 
Em tempos de algazarra da estupidez os gritos de socorro disparados por Lula despertaram almas bisonhas. Impressionante como a cegueira ideológica carrega certos indivíduos para a imbecilidade crônica, transformando-os em defensores de causas mortas, detratores da verdade e cômicos bestiais.
 
É o caso de um músico que conheço e que atua como bóia salva vidas do Lula e do PT, disparando, via Facebook, imbecilidades supremas. Dotado de certa astúcia, que utiliza de forma vil a ponto de desqualificar a própria inteligência, não lhe é difícil construir argumentos torpes para criticar os que não rezam por sua cartilha. Numa das últimas inserções – elas são inúmeras – postou o seguinte: (sic) assino a revista Veja para ganhar milhas, não para ler. Em comentário anterior havia dito, com uma ponta de bestialidade, algo como “se der na Globo é boato, se sair na Veja é mentira”.
 
Aliás, este tem sido um comportamento comum às criaturas da esquerda brasileira, basta analisar as recentes declarações de Ruy Falcão, presidente do Partido dos Trabalhadores, do senador Jorge Viana e do presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, todos, correligionários de Lula, o grão-tinhoso da política. É ridículo vê-los responsabilizando a mídia e as elites pelo honroso comportamento do Excelentíssimo Senhor Ministro Joaquim Barbosa e da maioria de seus pares no Supremo Tribunal Federal.
 
Observando a questão sob os aspectos de educação, informação e cultura é lamentável que oitenta, cem milhões de eleitores brasileiros não leiam a revista Veja e, mais especificamente, a edição nº. 2.288 que circulou na mesma semana das anacrônicas postagem e declarações dos tais cidadãos. Nas Páginas Amarelas da publicação há uma irreparável entrevista com o poeta, ensaísta, crítico de arte, tradutor e memorialista Ferreira Gullar, um homem reconhecidamente defensor de uma sociedade mais justa e igualitária.
 
Seja por seu equilibrado posicionamento sobre esquerda, direita, comunismo e capitalismo, seja pelas demais reflexões que faz, a entrevista é um banho de sabedoria e um respiro para quem não quer afogar-se na torrente de incompetência e corrupção que assola parte considerável do país. Do alto de seus oitenta e dois anos e respaldado no sofrimento causado pelo exílio que lhe foi imposto pela ditadura militar, Ferreira Gullar dá uma aula de “entendimento”. É comovente! Para a leitora Glória Borges, de Brasília, “a lucidez de Ferreira Gullar é água fresca e limpa”. Tomo a liberdade de propor, me desculpando pela má sonoridade: bebamos dela!
 
Quem dera, oitenta milhões de brasileiros – inclusive Lula e seu imbecilizado séquito – lessem a entrevista, mesmo que não mais de quarenta milhões deles entendessem, do início ao fim, o que lá está proposto. Quem dera, metade desses quarenta milhões de leitores concordasse com o grande intelectual.
 
Submergir por um tempo, talvez seja a saída”.
 
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.