quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O fim do mundo

Por André Carvalho (*)
Em 01 de janeiro de 2013
 
 
 
O FIM DO MUNDO
O baiano José de Assis Valente (1911 / 1958), em um samba de grande sucesso composto na década de 30 do século passado, cantou assim: “anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar / por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar / e até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada / por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada”. Mais de setenta anos depois anunciaram e garantiram que o mundo acabaria, desta vez com data marcada, em 21 de dezembro do ano passado. Quanto mais a Agência Espacial Norte-Americana – NASA – negava a possibilidade mais se falava no apocalipse.
 
charge de Aroeira
 
 
Estamos em 2013 e como você viu o mundo não se acabou e continua girando, quase que intacto, numa órbita sobre a qual os Maias andaram confabulando, há milênios. Aliás, místicos de causas várias insistem que o tal apocalipse foi coisa engendrada por eles, os Maias. Dos atuais, consigo identificar um, de prenome Marcos, que preside a Câmara dos Deputados de um país abaixo da linha do equador, onde, garante Chico Buarque, não existe pecado.
 
O Maia do planalto central do Brasil merece toda a consideração apesar das apocalípticas asneiras que dispara a cada referência que faz ao mensalão, à mídia, ao Supremo Tribunal Federal, à Constituição e aos seus companheiros de partido, condenados ou não, como é o caso do poderoso Zé e do demiurgo Lula, respectivamente.
 
Soube, por uma amiga de longas datas, mas nem por isso confiável, da tremenda frustração que se abateu sobre o Partido dos Trabalhadores com a não ocorrência do apocalipse. Lula ficou arrasado, pois contava com o fim dos tempos para acabar seus dias de maneira razoável escapando do crivo definitivo da história. Para Cunha, Dirceu, Genô e demais condenados pelo Supremo Tribunal era a chance de não amargar cadeia. “É melhor irmos todos para o inferno do que uns poucos à prisão” deviam estar pensando. É um raciocínio primoroso se entendido à razão do igualitarismo, tão ao gosto de quem está por baixo. Outra vantagem incontestável é que a galega Letícia e a galante Rosemary jamais trocariam olhares, pontapés, impropérios ou afagos. No inferno, essa história do Lula, Rose e Letícia seria uma amenidade só e um divertimento dos diabos!!!
 
Ando com pena do Marcos Valério que, acreditando na onda dos Maias, resolveu terminar seus dias de bem com a vida e de alma lavada prestando, espontaneamente, um depoimento bomba – tudo a ver com o fim dos tempos – à Procuradoria Geral da República. Na ocasião, o operador do mensalão disse cobras e lagartos sobre a cambada que se formou à sua volta no interesse de surrupiar o dinheiro da nação: do “capo di tutti capi” ao “capacho do chefe” não sobrou ninguém.
 
Outro que pensou de forma análoga ao Valério foi Carlinhos Cachoeira, o rei do jogo do bicho e o provedor mor de contatos e contratos do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, que teve por genitora a Dona Dilma, única mulher brasileira a migrar do cárcere ao palácio. Pois bem: dois dias após sair da prisão o marido da beldade Andressa Mendonça – o que o dinheiro não faz, hein! – declarou alto e bom som ser o garganta profunda do Partido dos Trabalhadores tal é o seu estoque de conhecimento sobre as operações montadas e executadas por dirigentes, parlamentares, filiados, aloprados e devassas do partido. Um assombro!!!
 
Ainda que mantido em sua conformidade, acredito que para os dois – Valério e Cachoeira – o mundo está perto de se acabar. Se não o mundo, ao menos a vida. A família de Celso Daniel, o prefeito assassinado em condições até hoje obscuras, que o diga.
 
O universo é cíclico e, como profetizou Vinícius de Morais, no famoso poema O Dia da Criação, “a vida vem em ondas como o mar”. Contudo, não há chances de um novo dilúvio, até porque, selecionar espécies é algo perigoso por parecer xenofóbico, mas “tsunamis” ocorrerão principalmente na política brasileira.
 
Brindemos o ano que se inaugura desejando que seja mais asséptico que os dez últimos.
 
Saravá!!!
 
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.