quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Lula desconstruído

Por André Carvalho (*) - Em 21JAN.2013
btreina@yahoo.com.br





LULA DESCONSTRUÍDO
Confesso jamais haver imaginado que em tão curto espaço de tempo o ex-presidente Lula tivesse sua história reescrita de forma tão precisa e, por conseguinte, absolutamente inversa àquilo que, até então se soube, se pensou ou se disse a seu respeito. Os fatos, via de regra, exercem menor poder que as versões e foi sobre tal pressuposto que Inácio e seus acólitos gracejaram nos últimos dez, quinze anos.

Tal e qual um torcedor capcioso que narra aos embriagados parceiros de bar uma jogada qualquer como perigo de gol, Inácio bradou suas incompetências e desvarios como grandes conquistas a milhões de eleitores embasbacados por sua tagarelice boçal, canal de transmissão de uma ignorância ímpar e de um mugir popularesco.

Ao cunhar, quando eleito – após quatro ou cinco derrotas fragorosas – a história da herança maldita, Lula foi mais do que deselegante com o governo a que sucedeu. Grosso modo, foi desonesto com Fernando Henrique Cardoso que se pôs distante da disputa eleitoral mesmo tendo, no páreo, um amigo e correligionário.

Abancado no Palácio do Planalto e abarracado no Alvorada e na Granja do Torto, Inácio protagonizou episódios lamentáveis da nossa história recente. Enquanto a pátria era subtraída em tenebrosas transações – Chico Buarque é sempre bem vindo – Inácio dormia em berço esplêndido repetindo, monocórdio, o fajuto refrão “não sei de nada”.

Diante do fracasso retumbante do “Fome Zero”, a maior promessa de sua campanha, tomou para si os programas sociais já implantados e usurpou sorrateiramente os incalculáveis benefícios do Plano Real cuja implantação não contou com o apoio, com os votos nem mesmo com o silêncio do Partido dos Trabalhadores.

Governou para si e para os seus vendendo ilusões a um povo majoritariamente inculto e comprando consciências de bandidos engravatados e jornalistas de ocasião. Se houve, em seus dois governos, uma ilha de competência, esta se restringiu ao marketing. Mentiroso, porém convincente.

Dorival Caymmi, certo dia, cantou assim: se sabe que muda o tempo / se sabe que o tempo vira / ai, o tempo virou. Óbvio que da Silva não considerou tal hipótese. Ao contrário. Pôs-se acima de tudo e de todos satisfazendo sua psicótica vaidade e engabelando meio mundo. Não duvido que tenha debochado dos incautos “fregueses” e se vangloriado da astúcia, considerada por muitos, sinônimo de competência.

Hoje, aquele que foi o cara, que se autointitulou o melhor presidente da história do Brasil e que se imaginou um mito, esconde-se por trás de seguranças, silencia a cada questão formulada pela mídia independente e busca sustentação entre aqueles a quem beneficiou com suas trapaças, indicações e favorecimentos.

A história de Inácio se apequenará a cada instante. Apequenar-se-á a cada episódio esclarecido, a cada bravata desqualificada, a cada marmelada descoberta e a cada golpe investigado. Apequenar-se-á fortemente, não tenham dúvida, todas as vezes em que for comparado a Fernando Henrique Cardoso ou a Itamar Franco, por exemplo. Nem mesmo o sonhado retorno à Presidência da Republica será capaz de inverter a tendência, que hoje o assombra, de ter sua história revista e reescrita à luz da verdade.

Não pairam dúvidas quanto à máxima “você é o resultado de suas escolhas”. Desatento às que fez – desde o migrar para o sul maravilha até o enrosco com José Dirceu e companhia – as opções do ex-presidente geraram, por resultado, a glória rasteira e o caminho da cadeia que somente não prevalecerá por vivermos num país desonrado.

Ao Inácio da Silva nada disso importa. Afinal, falta-lhe sensibilidade para entender a hecatombe moral por que passa. Voltando a Chico Buarque: “Tem dias que a gente se sente / como quem partiu ou morreu / a gente estancou de repente ou foi mundo então que cresceu / a gente quer ter voz ativa / no nosso destino mandar / mas eis que chega roda viva e carrega destino pra lá”.

Lula, escute o companheiro Chico...

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.