domingo, 2 de dezembro de 2012

História e estória

Por André Carvalho em 20 de novembro de 2012
 
 
 
 
TOMADAS.
Em tempos do politicamente correto e da máxima de que o cliente tem sempre razão peço licença para contar uma piada e descrever um fato que têm, por elo, uma simples tomada, dessas que conectamos à rede elétrica para que a maravilha da eletricidade chegue às nossas vidas, exceto quando os apagões de Dona Dilma estragam tudo.
 
Não há, nas próximas linhas, qualquer afronta aos credos, nacionalidades, profissões ou coeficientes de inteligência. Ao contrário! O que veremos adiante deve ser compreendido com bom senso: a força dos Deuses, a conversão milagrosa e a honestidade inconteste. É uma questão de ponto de vista.
 
Estive semana passada num churrasco em casa de meu bom amigo Francisco Almeida, o Chiquinho, e lá pelas tantas a sessão piada tomou conta dos convivas. A mais hilária delas reproduzo aqui, sem a força interpretativa de Aurélio Mendes, um dos maiores piadistas que já conheci.
 
Um muçulmano, um americano e um português foram condenados à morte em cadeira elétrica. Por questões de logística a execução dos três foi marcada para o mesmo dia e hora. Iniciada a sessão deram ao primeiro condenado, o muçulmano, a chance de um derradeiro pedido desde que atendível.
 
Sem pestanejar, o muçulmano virou-se em direção a Meca, pôs-se ao chão e clamou ao Grande Alá para que a morte não o consumisse. Malmente se compreendia o Alá, Alá, Alá repetido pelo condenado. Terminada a prece, o carrasco acionou o botão da cadeira elétrica, que, para espanto de todos, não funcionou. Sem saber como proceder em tão inusitada circunstância as autoridades presentes liberam o homem, tementes ao seu “Glorioso Alá”.
 
O seguinte foi o americano, uma figura esperta, utilitária e voltada ao resultado. Não foi difícil escolher, como último pedido, rezar para o Deus Alá. Afinal, havia dado certo com o primeiro deles. Quedou-se na mesma posição e direção do anterior e, sem saber como rezar, apenas repetiu por dezenas de vezes; Alá, Alá, Alá, Alá. Acionado o botão da morte a cadeira elétrica não funcionou e, a exemplo do primeiro condenado, o americano foi posto em liberdade.
 
Chegou a vez do português que optou, por derradeiro ato, rezar. Afinal, havia dado certo para o muçulmano e para o americano. Sem considerar a latitude e a longitude de Meca, o patrício arriou-se para o lado contrário e começou a rezar: Alá, Alá. Alá, Alá, Alá. Alá a tomada desligada. Foi sua última fala! O operador da geringonça mortífera conectou a tomada na rede, apertou o botão “start” e o português, após um tremelique, adentrou o inferno.
 
Corta: fim da década de 1970, Brasília, Ópera Studio, uma loja de venda, instalação e manutenção de equipamentos e sistemas de som da qual fui sócio. Entra um cidadão, típico funcionário público graduado, disposto a comprar um amplificador. Convenci-o a levar um equipamento nacional, da marca Spectro, fabricado em Benfica, zona norte do Rio de Janeiro. Poucos dias depois o cliente reapareceu, entre agressivo e ameaçador, reclamando que (sic) o caríssimo aparelho havia queimado com menos de uma semana de uso.
 
Agendamos uma visita à sua casa para aquele mesmo dia, no fim da tarde. Precavido, levei um equipamento igual e um outro modelo similar, importado, de uma das marcas mais conceituadas do mundo, ambos, em embalagens lacradas. Logo que a porta da residência do irritado cliente foi aberta, Armando, um competente eletrotécnico que me acompanhava, observou que debaixo do móvel onde estava o equipamento havia uma tomada de força desconectada. Cutucou-me e esbanjou um sorriso maroto! Após ouvirmos calados, a uma série de impropérios, Armando conectou a tomada à rede, girou o botão Liga/Desliga e o belíssimo painel do amplificador se acendeu.
 
Poucas vezes vi uma pessoa tão sem graça, tão sem chão, como aquele cliente, naquele momento. Silenciosamente ouvimos seus incontáveis pedidos de perdão após deduzirmos que a sua empregada doméstica havia, no dia anterior, desconectado a tomada de força do sistema de som para ligar a tomada de força da enceradeira. Acontece... Nem sempre o cliente tem razão.
 
O mais Interessante é que no caso real não havia lusitanos. Éramos todos brasileiros!
 
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.