segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Por André Carvalho (*)
em 09 de agosto de 2012
 
 
 
JAQUES, VAGUEANDO SEM SUSTENTABILIDADE.
Até que parecia estar sóbrio o Governador do Estado da Bahia, senhor Jaques Wagner, ao tentar fazer piada sobre um fato recente protagonizado por seu ídolo e guia político, o Professor Doutor Inácio da Silva. Quando perguntado, por ocasião da Conferência Rio+20, sobre a aliança entre o PT e Paulo Salim Maluf celebrada com festa, afagos e fotos promocionais, Wagner teorizou sobre a convivência democrática e arrematou dizendo que estamos aqui no ambiente da Rio+20 e, portanto, a sustentabilidade significa que não devemos exterminar nenhuma espécie".
 
Adjetivando com o substantivo espécie, Jaques Wagner referiu-se de forma pejorativa a Maluf, o mais novo aliado do seu partido e único cabo eleitoral capaz de colocar, na disputa pela prefeitura da capital paulista, o insignificante candidato Paulo Haddad. Mesmo estando sóbrio, como pareceu, a declaração se reveste de uma grosseria comum aos embriagados pelo poder.
 
Em vez de gracejos torpes seria preferível que o governador mantivesse, ao longo de sua estada no Rio de Janeiro, o mesmo jeitão taciturno com que se comporta na Bahia, desde que seu governo fez água, de há muito tempo.
 
Dizem que a carranca do governador baiano somente se desanuvia nos chiquérrimos camarotes do carnaval de Salvador, aos quais seus eleitores jamais terão acesso, ou nas seguidas viagens que empreende. Aliás, viagem a serviço é algo que anima o restolho político e arromba os cofres públicos.
 
Também sou adepto de brincadeiras e piadas, mas aqui falo sério: há, no gracejo do governador, uma dose cavalar de razão quanto à preservação e não extermínio das espécies, lição certamente aprendida com os militares que golpearam e governaram o Brasil entre 1964 e 1985, jamais através da inócua “sustentabilidade” que se busca em conferências como a Rio+20.
 
Wagner deve reconhecer que os militares – alvo de revanchismo dissimulado na atual “Comissão Nacional da Verdade” – tiveram todas as desculpas e condições para exterminar espécies semelhantes àquelas a que se referiu enquanto curtia a brisa carioca e o glamour da companhia de chefes de estado, alguns deles insustentáveis nos quesitos da moral e da ética.
 
A oportunidade do extermínio se apresentava, à época da ditadura militar, em exemplares terroristas como Dilma, Genoino e Gabeira; em jornalistas e intelectuais como Ziraldo, Jaguar, Lessa, Fernando Henrique e Darcy Ribeiro; em líderes estudantis como Serra, Palmeira e Zé Dirceu; em sindicalistas como Lula ou Oswaldo Lourenço ou em inocentes úteis como eu e outros tantos milhares de jovens secundaristas que acreditávamos nas sandices que nos foram ditas por defensores de múltiplas e obscuras causas.
 
Jamais saberemos se teria sido bom para o Brasil, ao menos nos aspectos da ética, da moral e da competência, o “extermínio” político de algumas das figuras que compuseram e ainda compõem certas raças e castas. Olhando ao derredor percebemos que a ditadura militar, por mais que digam o contrário, preservou todas as espécies mesmo não preservando todos de cada uma delas e, corajosamente, lhes permitiu disputar e vencer eleições ao ponto de, há mais de vinte e cinco anos, governarem o país.
 
Se o Governador Jaques Wagner, que pertence com vistoso pedigree a uma dessas raças, aprendeu algo da lição dada pelos golpistas de 1964, o mesmo não se pode dizer do seu grande ídolo Lula que, em entrevista concedida ao programa do Ratinho (pseudônimo e não espécie, governador), admitiu candidatar-se à Presidência da República, em 2014, caso esta seja a condição maior para que um adversário “tucano” não volte a nos governar. Não agiram assim os militares, até porque, pela competência e seriedade que imprimiram ao Estado Brasileiro, não recearam possíveis comparações.
 
Sério e grotesco!
 
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.