sábado, 21 de julho de 2012

Brasil... mostra tua cara!

Por André Carvalho
                                                            em 10 de julho de 2012
 
 
BRASIL... MOSTRA TUA CARA.
Luiz Inácio Lula da Silva se considera, todos nós sabemos, um cidadão do mundo, adorado e reverenciado de norte a sul, leste a oeste. Em sendo assim, sua aliança à Paulo Salim Maluf, celebrada dias atrás na capital paulista, terá sido festejada, justificada ou comparada a outras tantas nos quatro quadrantes do planeta.

A propósito, me permito uma comparação recordando história contada, certa feita, por um velho conhecido. Disse-me ele que na segunda metade da década de 1950, num bordel situado na zona do baixo meretrício, em Salvador, duas velhas prostitutas, inimigas de salão e eternas adversárias na busca por clientes, cada qual a seu modo, resolveram se aliar para destituir a gerente da casa que não lhes franqueava a bebida nem os melhores cômodos do andar superior. Por maior dos males, nem fiado havia! Escolheram, indicaram e “nomearam” para o posto uma jovem garota, desgarrada há pouco da saia materna. Um “pitéu”, como diria Jorge Amado, porém, sem experiência na gestão de tão complicado empreendimento. Disse-me o cidadão, concluindo a história: não demorou muito e aquilo lá virou uma zona.

Não foi apenas o bordel soteropolitano que me veio à memória por conta do acordo salinácio. Lembrei também de Cazuza – 1958/1990 – que, com vinte anos de antecedência cantou o Brasil do século que se inicia: Brasil mostra a tua cara / quero ver quem paga / pra gente ficar assim / Brasil, qual o teu negócio? / o nome do teu sócio? / confia em mim...

O nojento conchavo estabelecido em São Paulo com direito a apertos de mão, tapinhas, afagos e fotos promocionais comprova que o Brasil não passa de um grande balcão de negócios, no qual uns poucos sócios repartem a conta para que todos os demais, otários contribuintes, paguemos silenciosamente.

São de Cazuza os versos abaixo, pinçados em duas conhecidas canções: grande pátria / desimportante / em nenhum instante / eu vou te trair / não, não vou te trair. Outros versos, também contundentes, dizem assim: tuas ideias não correspondem aos fatos / tua piscina está cheia de ratos / eu vejo o futuro repetir o passado.

Pois bem: eleito Presidente da República Inácio tratou a pátria com soberba “desimportância” frente ao seu projeto de vida sem jamais admitir que traiu aqueles que não esperavam a repetição de um passado sujo, claramente identificado nos conchavos com Sarney, Collor, Renan e companhia ilimitada. É triste perceber que o homem do povo negou sua origem e seu discurso e nunca correspondeu suas ideias aos fatos que protagonizou. Acabou por encher de ratos a sua história.

Vida que segue e ninguém, em sã consciência, pode negar que Maluf foi um exímio trabalhador. Se contarmos o dia a dia, a produtividade e o empenho de cada um, Maluf trabalhou mais e melhor que Lula, nada havendo de errado, portanto, no aconchego que agora lhe dá o Partido dos Trabalhadores.

Aliás, foi o PT quem procurou Salim, assim como tem feito a Interpol, tanto que o encontro ocorreu nos jardins de sua mansão. Paulo Maluf, bom anfitrião, deve ter buscado formas de agradar seus convivas sem desarrolhar qualquer vinho de sua famosa adega, pois que não havia paladar enológico entre eles.

Quem sabe, regado por valiosa cachaça, Maluf os tenha recebido entoando versos de Chico Buarque, tão querido no meio petista: olha aí! / Ai o meu guri, olha aí! / Olha aí! / É o meu guri e ele chega! / Chega suado e veloz do batente / traz sempre um presente / pra me encabular... eu consolo ele / ele me consola / boto ele no colo / pra ele me ninar / de repente acordo, olho pro lado / e o danado já foi trabalhar / olha aí, olha aí.

Impossível falar de música e política sem bisar Chico Buarque. O que nos serviu para defender uma causa, agora me serve como desabafo: Amanhã vai ser outro dia / hoje você é quem manda / falou, tá falado / não tem discussão, não / você que inventou o pecado / esqueceu-se de inventar o perdão.

Voltando a Cazuza: transformaram o país inteiro num puteiro, pois assim, se ganha mais dinheiro. Acontece que o tempo não para, não para não.

Seu dia Inácio, vai chegar!