sexta-feira, 6 de julho de 2012

André Carvalho: Acreditem, foi por cortesia

Por André Carvalho (*)
Em 19 de junho de 2012
btreina@yahoo.com.br


ACREDITEM, FOI POR CORTESIA
Recuperado do câncer que o atormentava – certamente com a graça divina, as bênçãos do diabo e a intervenção do médium João de Deus – o ex-presidente Luiz Inácio da Silva ressurgiu na asquerosa política brasileira de forma assaz incomum. Deseducado na origem e estúpido por aptidão voltou fazendo visitas de cortesia aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, segundo declarou.

Da Silva fazendo visita de cortesia? Não lembro de tamanha gentileza durante seus dois mandatos, menos ainda nos seus tempos de sapo barbudo, como dizia o falecido Brizola. Tão estranho quanto a repentina “finesse” foi a maneira silenciosa em que tais visitas ocorreram quando se sabe que o ex-presidente sempre buscou os holofotes, microfones, câmeras, manchetes, ou mesmo, um cantinho de página qualquer.

Até há pouco, os embarques e desembarques do indivíduo para as sessões de químio, fono e radioterapia eram espetaculosamente montados, à porta do hospital, para a devida cobertura da imprensa. Não entendo por que agora suas andanças são secretas, mesmo quando em direção aos Juízes do STF. Surpreendente, não?

Um dos ministros visitados, Gilmar Mendes, sentiu certo desconforto com as ofertas e conselhos recebidos em circunstâncias tão obscuras – o local, a época e a testemunha – que, entre perplexo e injuriado, comentou a inusitada visita, sua natureza, conteúdo e, corajosamente, seus meandros. Foi o suficiente para que a revista Veja, sempre atenta, publicasse em sua edição de nº. 2271, matéria esclarecedora sobre o cortês périplo lulista.

Da Silva, ora vejam, detestou aparecer nas páginas da revista e se disse indignado com o teor da matéria, como se este fosse inverídico. Não esperava que seu interlocutor confirmasse a prosa e, por extensão, a reportagem. Nelson Jobim, intermediário, testemunha e dono do escritório onde a visita se deu, e que sempre buscou o brilho das manchetes, calou-se covardemente, sujando de forma inconteste sua biografia, já maculada em outros muitos quesitos. Talvez o doutor Jobim estivesse providenciando um lanche ou uma bebidinha, enquanto Lula falava a Gilmar.

Mais uma vez flagrado no contrapé da decência, Inácio afirmou que “tem de tomar cuidado com pessoas que estão aí no pedaço e que não gostam dele”. Não percebe que são os seus desafetos que devem tomar cuidado com ele, o todo poderoso, o raivoso, o dono do pedaço, o visitador de ministros. Não o inverso!

Eu, por exemplo, devo tomar muito cuidado por não gostar do Lula e por conviver com pessoas que também não gostam. Já recebi fortes reprimendas de “cumpanheiros” aloprados, mas, espero ficar livre dos fatídicos dossiês por eles elaborados. Os exemplos são múltiplos!

Esclareço que não gosto do Inácio por conta de suas bravatas e de sua prepotência que, embaladas por uma consistente ignorância, estabeleceram enfrentamentos inúteis na frágil sociedade brasileira. Não gosto do timbre da sua voz tanto quanto não gosto do encadeamento de seu raciocínio, de sua fala. Das ideias, então, nem pensar, um horror! Da Silva confunde os sentimentos: declarou-se indignado com a matéria da Veja quando deveria se sentir e se confessar, envergonhado.

Não gostar faz parte da dinâmica do ser, da vida. O próprio Lula é um modelo vivo e acabado do não gostar. Silva detesta muitas pessoas e muitas coisas. Não gosta, por exemplo, daqueles que lhe negaram o voto, como também não gosta de Fernando Henrique Cardoso que o derrotou por duas vezes nem do Marconi Perillo que o confirmou como sabedor e avalista do mensalão. Certamente não morre de amores por Roberto Jefferson que denunciou, há sete anos, o esquema de “compra” de parlamentares. Será que Da Silva morre de amores por Roberto Civita ou pelo Procurador Geral da Republica? E o que dizer do jornalista Larry Rohter, de o The New York Times, que noticiou verdades sobre seu consumo abusivo de álcool? Destemperado, Inácio chegou ao cúmulo de ordenar sua expulsão do Brasil. Quem mesmo precisa tomar cuidado?

Na verdade, Lula deve tomar cuidado apenas consigo, porque se algum dia cair em si garanto que não gostará do resultado.

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.