terça-feira, 20 de março de 2012

A cozinha da Copa

Por André Carvalho (*)
Em 17 de março de 2012
btreina@yahoo.com.br



A COZINHA DA COPA
Pode dar tudo errado, inclusive com a derrota da seleção brasileira logo na primeira fase, como ocorreu com o último país sede, a África do Sul. Mas, que a próxima Copa do Mundo se mostra, desde já, divertidíssima, um verdadeiro espetáculo, não resta a menor dúvida. A primeira quinzena de março, então, foi um show. Recordemos...

O secretário-geral da Fifa, o francês Jérôme Valcke, desferiu um duro ataque aos preparativos para o evento de 2014 ao dizer que não há muita coisa se mexendo e que os organizadores precisavam levar um chute no traseiro. Reclamou ainda que o tempo está passando e falta um plano B para corrigir eventuais contratempos. Da maneira como andam as coisas penso que um plano B, C ou D são insuficientes. É dramática a circunstância, não?

Enfurecido, como sempre parece estar, o ministro dos esportes senhor Aldo Rebelo declarou não mais reconhecer no secretário da Fifa um interlocutor, fechando assim qualquer possibilidade de diálogo e, por conseguinte, acordo. Ao retrucar, Jérôme taxou de infantil a postura do nosso governo, representado no caso, pelo ministro comunista e candidato a filólogo. Uma comédia!

Daí ressurge, do fundo do mais fundo baú, o assessor especial da Presidência da República, senhor Marco Aurélio Garcia, aquele mesmo que protagonizou inúmeras trapalhadas no governo Lula e xinga o Jérôme Valcke de vagabundo. Ato contínuo profere a seguinte pérola: não me parece que bunda seja uma palavra diplomática, mesmo se traduzida como traseiro. Você já ouviu de uma autoridade palaciana, tirante o ex, algo mais imbecil? Uma gaiatice, não?

Divirto-me ao assistir o Congresso Nacional se esvaindo em iniquidades para aprovar a lei geral da copa, ainda por conta da liberação do consumo de bebida alcoólica nos estádios, coisa que os evangélicos e os hipócritas deploram. Contudo, outras tantas propostas de emenda à lei parecem criadas por bêbados contumazes. Uma delas, a meia-entrada para beneficiários do programa bolsa família, é de uma embriaguez feroz. Uma palhaçada!

A bagaceira está divertida, quer ver? Enquanto tudo isso acontece o Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, atolado em denúncias de corrupção, renuncia ao cargo e se esconde em Miami, enquanto por aqui o minúsculo Romário, ora vejam, dá lições de probidade em sucessivas entrevistas ou em apartes na Câmara dos Deputados.

Precisa enredo melhor? Claro que não. Mas ele existe: Ronaldo, o fenômeno barrigudo, apreciador da biodiversidade sexual e partícipe dos trabalhos de organização da Copa do Mundo, entende que o gringo Valcke tem alguma razão. Neste caso o governo se calou por não ser besta de divergir de tão ilustre cidadão, de tão poderosa celebridade. Circense, meu caro leitor!

Comenta-se que o governo federal se recusa a falar com a Fifa que por sua vez não tem um interlocutor confiável no Comitê Organizador Local muito menos na Confederação Brasileira de Futebol, os quais, também, não são recebidos pelo governo. Hilário!

Claro que para resolver o fuzuê surgiram explicações, bodes expiatórios, pedidos de desculpas, análises tendenciosas, outras sem qualquer tenência, cartas e mais cartas num vai e vem pra lá e pra cá do vice versa. Até o Josehp Blatter veio correndo visitar a Rousseff. Um encontro forçado, meio ridículo!

Como de costume, tenho uma proposta: que tal nosso governo, talvez com o apoio de Cuba e do Irã, exigir a exoneração do secretário geral da Fifa, esse francês ingrato, e impor a nomeação de um compatriota? Um companheiro do PT ou da fragilizada base aliada? Quem sabe o Ricardo Berzoini, o José Dirceu, o Negromonte, o Nascimento ou o Lupi! Camaradas que entendem do riscado, e mais ainda, do não riscado, não traçado, não planejado, não contabilizado! Se a Copa vai ser no Brasil, por que colocar um francês à frente do negócio? Melhor um camarada brasileiro, de preferência um político, em última instância, um sindicalista. Só não pode ser um dirigente do MST, porque aí, os gramados não resistirão às invasões. Tragicômico? Não, não, chistoso!

Enquanto estava nesse reme-remesoube que na Itália, o Tribunal de Arezzo, na Toscana, bloqueou as contas bancárias do Itamaraty em seu território motivado por um calote que demos – através da estatal Valec – em uma empresa italiana que desenvolveu, sob contrato, projetos e/ou estudos relacionados ao trem bala Rio – São Paulo. Divertido, não?

Jérôme, Ronaldo: concluo que vocês têm razão! Espero apenas que a seleção brasileira, em campo, não faça tanto gol contra assim...

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.