terça-feira, 31 de maio de 2011

Genoíno & Ronaldinho, os homenageados!



Por André Carvalho (*)
Em 24 de maio de 2011
btreina@yahoo.com.br



GENOINO, O RONALDINHO DA DEFESA!
Mais uma vez, e elas foram muitas, o Jobim – ele mesmo, o ministro – embaralha meus três neurônios, dois deles morenos e o terceiro louro, herança de minha avó paterna, uma brasileira com descendência direta alemã. Por decisão pessoal, circunstância que fez questão de frisar, o senhor Nelson Jobim condecorou outro senhor, de prenome José e sobrenome Genoino, com a Medalha da Vitória, uma comenda concedida a militares e civis que contribuíram para difundir a atuação do país em defesa da liberdade e da paz mundial.

Para aqueles que não se lembram, Genoino (até caberia um agudo no “i” para amenizar a troca do “u” por “o”) foi presidente do Partido dos Trabalhadores, deputado federal por alguns mandatos, comentor do mensalão no primeiro governo Lula e guerrilheiro no Araguaia durante a ditadura militar. A biografia do José não se sustenta apenas de passado, posto que o indivíduo é, atualmente, assessor especial do Ministério da Defesa. Como veem, o insigne é “ficante” e “ocupante” de cargos, sejam eles de maior ou menor envergadura, não importa. O que importa mesmo é estar incluso dentre aqueles que mandam no país de todos nós, quando não, de todos os nós!!!

Penso que o Jobim, sempre que pode, faz questão de me sacanear com atitudes que jamais entendo. O Ministro tem a capacidade de burlar o bom senso e, por conseguinte, me tira do rumo. Exemplo: ao justificar a concessão da comenda ao Genô declarou “que estamos todos olhando para frente, ou seja, o que nós estamos querendo fazer e que o Brasil deseja fazer é um grande ajuste de contas com o seu futuro. O Brasil não quer retaliar seu passado”. Enquanto pagador de impostos, penso que ajuste de contas com o futuro é orçamento e não comenda. E tem mais: diz o protocolo, que a tal comenda deva ser concedida àqueles que contribuíram para difundir a paz, especialmente após a segunda guerra mundial. O agraciado, reconhecido guerrilheiro, nunca teve a paz em seu propósito de vida. Como mensaleiro também não. Portanto, a concessão não casa com a especificação, nem a comenda com o agraciado. O Ministro quer, realmente, atormentar, e não só a mim, a vocês também.

A cerimônia de condecoração foi comovente. Vocês precisavam ver a cara do Genô: quanta suavidade, que semblante pacificador; parecia um Gandhi dos trópicos. Faltava apenas um cajado para equilibrar, metaforicamente, sua insustentável leveza de ser, como diria Milan Kundera.

É certo que o Ministro da Defesa de uma potência como o Brasil, não se deixa influenciar. Entretanto, numa análise isenta, fico imaginando se toda essa incongruência não ocorreu por indução da Academia Brasileira de Letras que, um mês antes, em 12 de abril de 2011, ao comemorar o centésimo décimo aniversário de nascimento de José Lins do Rego, um grande escritor e flamenguista doente, concedeu a Medalha Machado de Assis, sua máxima honraria, ao senhor Ronaldo Moreira popularmente conhecido como Ronaldinho Gaúcho – esse mesmo, o do futebol e do pagode.

Como Ronaldinho fez pela literatura tanto quando Genoino fez pela paz, o Jobim acaba tendo alguma razão. Na verdade, o Genoino é o Ronaldinho da Defesa. Se continuarmos nesta linha de raciocínio perceberemos que a Academia Brasileira de Letras copiou a Universidade de Coimbra, a mais importante e antiga de Portugal, que concedeu o título de doutor honoris causa ao Inácio da Silva. Querem aprofundar? Esse desvario “condecorativo” começou, na verdade, em minha querida Bahia, na Ufba, sua universidade federal, que presenteou Inácio, logo que empossado, com um doutorado.

Em prol da coerência, informo que ano vindouro Jorge Amado completaria cem anos de nascido cabendo, portanto, homenagens e condecorações. Espero que a Academia, a exemplo do que fez com o Lins do Rego, o Flamengo e o pagodeiro, se lembre de condecorar as prostitutas de Ilhéus, mesmo que não frequentem mais o charmoso Bataclan.

P/S. Podia inserir no contexto o Itamaraty medalhando a Sra. Marisa Letícia. Seria uma maldade rememorar tal história, não é mesmo?

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.