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Em 22 de março de 2011
OBRAMA DESCE REDONDO
Fiquei “troncho”, na cadeira, assuntando pela telinha tudo o que aconteceu na passagem, por nosso solo, do afro-norteamericano com sobrenome de cerveja brasileira e sua imaculada família. Gosto desse negócio de nosso solo, nosso chão, meu país, meu rincão e outras coisas do gênero apenas por darem uma forcinha ao texto. Talvez, por conta do uso de tais recursos, tenha sido taxado de fascista, por uma emérita professora de Universidade Federal da Bahia. Só pode ser por isso, jamais por minhas ideias democráticas, liberais, capitalistas e globalizadas, inclusive sobre a internacionalização da Amazônia, antes que a percamos, de todo, para interesses espúrios, sejam eles empresariais, governamentais, militares, fascistas ou “narcotraficanais”.
Quando defendo a internacionalização da Amazônia recebo uma enxurrada de protestos, os mais virulentos possíveis, endereçados amiúde por indivíduos que se desmancham em prazer e emoção quando escutam a gravação do falecido John Lennon interpretando sua canção Imagine: “Imagine there’s no countries”. Curioso não é mesmo?
Óbvio que Barack não tratou desta questão em sua estada brasileira. Aliás, tirante o convescote com a Presidente Dilma, no Palácio do Planalto, do qual o PMDB e todos os demais aliados foram defenestrados, nada mais relevante foi dito ou assinado. Os pronunciamentos foram de uma previsibilidade insuportável. “Bondea brezil. Bondea cidamarailhossa” e por ai foi: viva o país tropical, queremos aumentar nossos laços, salve Paulo Coelho, etc.etc.etc.
Faltou um “the best woman of the world” para a Presidente Dilma. Acredito que ressabiado com o desencadeamento do “esse é o cara”, Obama passou ao largo de brincadeiras mais sutis. Visto pela ótica da competência devemos reconhecer que o discurso, no Teatro Municipal, certamente escrito por um norteamericano é uma aula de diplomacia e marketing. Nenhuma bravata, nenhum deslize, nenhuma impropriedade, muito diferente daquilo a que estávamos acostumados a ouvir, no âmbito interno, nos últimos anos, não é mesmo?
E na favela, hein? Quanta naturalidade... Ressalve-se que a naturalidade exibida pela família americana está na direta proporção do aparato de segurança e das restrições impostas a todos os seres viventes em seu entorno. Não importa! Regozijo-me ao perceber que até os mais ferrenhos petistas e antiamericanos, aqueles que fariam um grande protesto na Cinelândia, e, por conta disso, foram estropiados pela Presidente da República, acabaram por adorar a visita de Barack. Na linha do politicamente correto “Braminha” bateu bola com a garotada, Michelle destacou com um charmoso susto o salto mortal do guri na roda de capoeira, a bateria fez um barulho infernal, mas não desafinou e assim por diante. Que lindo!!!
Fiquei com a pulga atrás da orelha sobre o porquê do cerimonial não haver convocado uma passista tipo Pinah – lembram-se dela em janeiro de 1979 com o Príncipe Charles? – para ensaiar uns “passitos” de samba com o galã da política internacional. Talvez não houvesse espaço para pinotes, com uma Michelle daquelas no pedaço, e que, registre-se, encantou a todos por sua elegância e variedade de trajes. Contudo, acho um absurdo nós, brasileiros, abrirmos mão da soberania das nossas afrodescendentes, principalmente quando se exibem de corpo inteiro e em ritmo de samba. Desculpem, mas há certo fascismo nesse meu posicionamento soberano.
Para o Brasil, esse grande balcão de negócios, a visita foi um superávit fantástico. Um evento desses é transmitido para todo o mundo, on-line e em não sei quantas dimensões. Apenas desconheço se o foi para os nossos mais devotos aliados: Cuba de Fidel; Irã de Marnudinho; Líbia de Kadhafi; Venezuela de Chávez; Honduras de Zelaya.
Senti falta do Inácio com sua contagiante educação.
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.