terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vontade de ferro...

Crônica
Vontade de ferro...

Por Toinho de Vadú.

Já bebi muito. Quer dizer, muito não, proporcional aos meus 51 anos. Claro que não bebi em todos esses 51 anos pois a última gota tomei no carnaval de 2008, quando tinha 48.

Aliás, essa tal última gota é maneira de dizer pois na época, meu amigo irmão Bisama e eu, passávamos o carnaval na ilha de Itaparica e “trabalhávamos” com lata, quer dizer, garrafa não era permitido, pois ocupava espaço no congelador daquela que não era assim uma Brastemp...

E afirmo, sem medo de errar: quando o carnaval acabou, a fila de latinhas de cervejas (vazias) era maior que a tão falada linha do metrô, que Janjão - o prefeito chorão que Salvador elegeu - prometeu e não entregou.

E digo mais: quem não viu, perdeu, pois foi uma coisa bonita de se ver, o sorriso de dente a dente ( ela só tinha dois) que a velhinha catadora de latinha deu, quando bateu o olho na quantidade do produto à sua disposição.

Imagine que ela ainda queria nos pagar quando estava era nos fazendo um favor ao recolher aquela prova, eliminando assim o flagrante de qualquer excesso que possamos ter cometido!

Aliás, nesse esporte o baiano é bom, pratica sem esforço, esse e aquele outro, fazer xixi na rua. Sempre acho impressionante a facilidade - e a desfaçatez – com que nós, baianos, arranjamos um cantinho para “se aliviar”. E não são só os homens, não, as mulheres também!

Mas estamos desculpados, ou pelo menos justificados, pois o costume foi introduzido na Bahia por um certo fidalgo português, lá pelos idos do século dezesseis, segundo documento que tenho em meu poder, um poema psicografado pelo decente e fidedigno baiano Gregório de Mattos e Guerra, também conhecido pelo singelo apelido de Boca do Inferno. Quem tiver interesse em conhecer esse curioso e esclarecedor poema se manifeste que faço chegar às mãos.

Mas voltando à carne seca, ou melhor, à água que passarinho não bebe - nem eu - como afirmo no tempo verbal da primeira expressão desse texto. Já disse que parei de beber aos 48. E comecei aos 18, antes não deu porque meus pais marcavam em cima. Então, só bebi durante 30 anos. Pensando bem, 30 anos são 30 anos! É melhor descartar o e encaixar um...esquece, só descarta o . Então fica assim: bebi durante 30 anos! Bem mais solene!

Pois bem, após aquele inesquecível carnaval resolvi parar de beber. Por seis meses. Não me lembro se estava ou não sob efeito de ressaca física ou moral mas alguma coisa subiu-me ao peito - não, não foi enjôo, não - virei-me para Bisama e o desafiei para uma aposta: um engradado de cerveja, como conseguiria.

Quando ele ouviu a proposta, deu uma risada de desdém, me encarou e disse: vai ser a grade mais fácil que já bebi. Só que ele perdeu!

Então, dos seis meses resolvi esticar por mais tempo e lá se vão mais de três anos. Ou seja, perder a aposta ele perdeu, mesmo não tendo morrido no prejú, como dizemos aqui na boa terra, quer dizer, não tendo pago a aposta. Enquanto isso, ganhei, mas não levei, pois não pude cobrar a aposta.

Resumindo; ele perdeu, ganhou e perdeu de novo. Não entenderam? Explico.

Perdeu a aposta porque passei os seis meses sem beber. Por outro lado, também ganhou, já que não teve que abrir o bolso para pagar a aposta. Mas no fim ele realmente perdeu, pois seu parceiro etílico – no caso eu – deixou de sê-lo (arreda, Jânio!). E disso ele se queixa até hoje, choramingando pelos cantos, saudoso da boa companhia.

Eu às vezes sinto dó da dor do amigo, sento-me à mesa do bar com ele, peço uma Kronenbier ou Bavária sem álcool (bem gelada, é a melhorzinha) e faço de conta que bebo e ele faz de conta que bebemos juntos. Por vezes dá até vontade de chorar, principalmente quando nosso time perde, coisa rara de acontecer.

Bem, vontade de ferro, esse é o título dessa crônica. Mas por qual razão?

Cheguei em casa hoje à noite, cansado da labuta (palavra bonita, permite boa rima) pois estava mal - ou bem - acostumado com a boa vida de não fazer nada a não ser cuidar de um blog, mas isso não cansa, dizem.

Exausto da semana de trabalho, acho até que mereceria o troféu de Funcionário do Mês mesmo não tendo ainda completado um mês no batente, quando abro a porta, tiro os sapatos, abro a geladeira e vejo duas Heineken revestidas com aquela camada branquinha de duas semanas na gaveta do quase freezer, e aí...


Fiz um suco de laranja!


(*) Toinho de Vadú é um desassuntado que por falta de assunto resolve escrever, coisa que sabidamente ele não sabe.