segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

llRETRÔ DE CIRO E CHICO



Por André Carvalho (*)
Em 20 de janeiro de 2011




llRETRÔ DE CIRO E CHICO
Passagem de ano é tempo de retrospectiva. Quem nasceu e quem morreu dentre os abastados ou famosos, quem tirou a roupa nas revistas masculinas, quais as descobertas científicas, os muitos ônibus queimados, as inúmeras balas perdidas, a listagem de crimes passionais e frases incoerentes, além das estatísticas sobre tudo e cada coisa, em percentuais que se perdem no vão das desnecessidades, assim como se perdem, no emaranhado da vida, as denúncias de corrupção e favorecimento que “dinamizam” o universo político.

Por mais que me esforce, não consigo calar diante de duas circunstâncias ocorridas em 2010. Sei que coloco minha cabeça a prêmio, conquanto tratarei de figuras importantes, uma delas, unanimidade na classe intelectualmente mais favorecida. Trago, em retrospectiva, Ciro Gomes e Chico Buarque de Hollanda.

Pense ai num bambolê de bêbado! Assim foi o político cearense ao longo do ano. Subiu, desceu, foi de um lado ao outro, caiu, girou, parou e recomeçou sempre em volta e, às voltas com o Senhor Presidente da República, tal e qual um bambolê (se você leitor pensou em bêbado a inferência é sua). Começou candidato ao cargo máximo da república, mas, convencido por Inácio, mudou o domicílio eleitoral para postular a candidatura ao governo paulista, no que foi escorraçado por petistas do sudoeste. Ressentido, falou grosso e numa magnitude que somente ele alcança elogiando a competência de seu reconhecido desafeto, José Serra, apenas para provocar a candidata Dilma e seu criador. Passada a eleição, articulou para ser ministro de alguma pasta, o que também não ocorreu todos sabem o porquê. Ciro bamboleou como nenhum outro político brasileiro, ao ponto de me deixar zonzo. Foi um trouxa nas mãos de Lula e termina o período no papel de irmão do governador do Ceará, o Cid, homem de bem e bens, reconhecido como o melhor genro do nordeste.

Outro irrecuperável trouxa do ano, nas mãos do governo petista, foi Chico Buarque de Hollanda. A nomeação de sua irmã Anna (de Osasco e não de Amsterdã) para o cargo de Ministra da Cultura potencializa o mico do grande compositor. Na verdade, enquanto “ser” político, Buarque tem sido um exímio escritor. Comprovo: num ato público de apoio às candidaturas da coligação petista, Chico afirmou gostar da política externa do governo pelo fato de "não falar fino com Washington nem falar grosso com Bolívia e Paraguai".

Aí surge o louco da Wikileaks, Sr. Julian Assange que, diga-se de passagem, contou com o apoio manifesto de Lula, e divulga ao mundo, via internet, documentos até então secretos, retirados dos arquivos eletrônicos do Pentágono. Um deles relata que o presidente brasileiro enviou José Dirceu, um emissário muito especial, a Caracas, para exigir que o ditador venezuelano baixasse o tom das suas bravatas contra os Estados Unidos da América. Segundo o Jornal madrileno El País – adorado pela esquerda tupiniquim, desde que paparicou o Inácio – o governo brasileiro advertiu Chávez a não “brincar com fogo”. Ainda segundo o mesmo periódico a conversa foi relatada por José Dirceu ao embaixador americano em Brasília, John Danilovich, conforme consta dos documentos supracitados.

Vemos ai um Brasil medroso, “afinando” com Washington e falando grosso com a Venezuela que, em nada difere de Bolívia ou Paraguai no contexto diplomático citado por Francisco Buarque de Hollanda. Chávez, claro, fez ouvidos moucos como a tudo mais que lhe “disse” o Brasil. Que “mico” hem Chico!? Mais um ludibriado pela dissimulada retórica petista/lulista. Mais um importante membro da esquerda – não necessariamente festiva – que desaba nas mãos dos poderosos camaradas abancados em Brasília.

Caro Chico, vou usar de sua irrefutável e incomparável poesia: “ouça um bom conselho, que lhe dou de graça, inútil dormir que a dor não passa”. Tempos bons, não?

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.