terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A Fórmula 1 e o populismo

Por Rafael Lopes, em seu Voando Baixo

As ruas de Caracas foram palco de um espetáculo não tão agradável na última sexta-feira. O venezuelano Pastor Maldonado, novo piloto da Williams para a temporada 2011, realizou uma exibição com o carro da equipe inglesa do ano passado no Paseo de los Próceres, um dos principais pontos turísticos da capital da Venezuela.



Só que Hugo Chávez, presidente do país, roubou a cena com mais um de seus discursos tradicionalmente populistas. Conhecido pela fama de falar muito – e demais – e pelo cerceamento à liberdade de imprensa: o político proibiu que meios de comunicação que fizessem oposição a seu governo pudessem cobrir o evento.

Ou seja: como já era esperado, o apoio para Pastor Maldonado chegar à Fórmula 1 é apenas mais uma ferramenta para que Chávez faça propaganda de seu regime quase ditatorial.


O presidente venezuelano está desembolsando nada menos que US$ 43 milhões para colocar seu piloto na equipe inglesa. Como a Williams está precisando de dinheiro, foi um apoio muito bem-vindo. Só que vejo com muito receio o uso político do esporte, ainda mais por um regime tão polêmico quanto o venezuelano. É a F-1 a serviço do populismo.

O carro da Williams em 2011 terá as marcas do “Governo da Venezuela” (com direito à bandeira estilizada no macacão de Maldonado) e da PDVSA, a petrolífera estatal do país.

Os paddocks da Fórmula 1 deverão ter a presença de Hugo Chávez em mais corridas – espero que sem aquele agasalho com as cores do país. Enquanto isso, a população venezuelana sofre com os efeitos das enchentes ocorridas em dezembro, além do cerceamento à liberdade de expressão e a falta de segurança.


No meio disso tudo está Pastor Maldonado, piloto que teve apoio governamental desde o início de sua carreira na Europa. Entretanto, seus resultados sempre foram discretos. Ele conquistou a Fórmula Renault Italiana em 2004, seu único título internacional até 2010. No ano passado, ele foi campeão da GP2 em sua quarta temporada na categoria.

Ele se aproveitou da maior experiência com o carro para superar novatos promissores. Entretanto, o venezuelano é conhecido por seu ímpeto exagerado e pelo excesso de acidentes. Antes do “intere$$e” da Williams, ele nunca chegou a ser cotado para fazer o salto para a Fórmula 1.