Notícias e análises
Quando este colunista começou a trabalhar em jornal, na época em que Esperidião Amin ostentava enorme cabeleira e usava barba de dar inveja em petista, informação era artigo caro e raro. As comunicações eram difíceis, precárias, brutalmente caras; os filmes para o melhor telejornal do país, o Repórter Esso, "o primeiro a dar as últimas", vinham do Exterior de avião, e na melhor das hipóteses a imagem de um dia era exibida no outro.
Hoje a informação é abundante e barata, as comunicações são boas, embora custem mais no Brasil do que seria aceitável. A Internet dá os informes em primeira mão, embora com checagem precária; rádio e TV já dão notícias bem elaboradas. E os jornais, que saem no dia seguinte, ou hierarquizam as informações, mostram os vínculos entre os fatos, analisam a realidade, aprofundam-se na busca dos bastidores, ou se tornam desnecessários.
Simplesmente noticiar que a campanha publicitária da despedida do presidente Lula custa R$ 20 milhões de dinheiro público é insuficiente. Serão as verbas publicitárias oficiais destinadas a promover o governante de plantão, mesmo que seja o governante que sai, e não apenas, exclusivamente, somente, informações de interesse público? Que informação referente ao interesse público há na propaganda dos feitos do presidente Lula durante seu nunca assaz louvado Governo?
Propaganda dos bons tempos que se vão? OK; mas que seja paga pelos partidos que apoiam o presidente, por empresários amigos, por doações populares.
Caberia aos meios de comunicação buscar, nas leis e na Constituição, aquilo que é permitido divulgar com dinheiro público. O artigo 37 da Constituição diz que a publicidade dos atos, programas, obras e serviços e campanha dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social (...)
Aliás, considerando-se que a Constituição é federal e vale para todo o país, a propaganda aberta dos governos estaduais está também totalmente fora da lei. Na época eleitoral, foi pior: anúncios de empresas estatais que atuam apenas em São Paulo eram divulgados em rede nacional de TV - e, certamente por coincidência, o governador de São Paulo era candidato à Presidência da República.
A imprensa, na época, limitou-se ao declaracionismo: os adeptos de uma candidatura condenavam a propaganda da outra, os adeptos da outra candidatura diziam que estava tudo dentro da lei, que os adversários é que abusavam, etc. E, em certos casos, não havia opinião a discutir: havia fatos, que caberia à imprensa noticiar e repercutir. Mas é difícil, claro, lutar contra a propaganda. Afinal de contas, os veículos de comunicação também têm contas a pagar, não é mesmo?

