terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Brasil, um país surreal!

Por Carlos Brickman, em sua página

Diz a Bíblia: "Não fique inerte perante o sangue do próximo". O Talmud, compilação das leis judaicas e de suas interpretações, diz que quem salva uma vida salva a Humanidade.

No Brasil, um laboratório está sendo processado por uma agência federal pelo crime de colaborar, de graça, para salvar uma vida.


arte de Guto Cassiano

A história inacreditável do processo da Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, contra o Laboratório Baldacci, de São Paulo, começou há três anos. Victor, filho recém-nascido de Bianca Calumby, tem uma doença rara: para viver, precisa de um caríssimo aminoácido, a citrulina, que lhe permite aceitar alimentação.

O Laboratório Baldacci, procurado, doou três quilos do aminoácido, que garantiram a vida de Victor até o início deste ano. O Baldacci doou então mais dois quilos - tudo documentado, com pedido médico, doação formal.

A Anvisa, alegando que o Baldacci tinha autorização para usar o aminoácido como matéria-prima, mas não para doá-lo, autuou o laboratório. "Nunca pensei que pudéssemos ser punidos por querer socorrer uma criança", diz, com toda a razão, Ronaldo Abbud, diretor do Laboratório Baldacci. A mãe de Victor completa: "É questão de formalismo cego. Sem o remédio, o garoto teria morrido".

O laboratório fala pouco sobre o caso: pode sofrer retaliações e talvez até perder o certificado de boas práticas farmacêuticas, o que o tiraria fora do mercado. Mas o Baldacci pretende continuar (gratuitamente) cumprindo sua missão: ajudando a salvar vidas. Já a Anvisa prefere cuidar dos formulários e não de vidas.