terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pseudo erudição imbecil, por André Carvalho


Por André Carvalho (*)
Em 07 de novembro de 2010
btreina@yahoo.com.br


Publicado no jornal A Tarde de 18 de novembro de 2010

PSEUDO ERUDIÇÃO IMBECIL
Estou mais para a comédia do que para o drama, característica herdada do ácido desoxirribonucleico de meu avô paterno, Lulu Parola, humorista e poeta, que por mais de cinquenta anos publicou a coluna Cantando e Rindo, primeiro em sua gazeta, o Jornal de Notícias, e depois no jornal A Tarde.

Penso que vim ao mundo sem responsabilidade com minhas ideias, mas imbuído de exercitar a análise para, em seguida, estabelecer o contraditório que tanto me agrada. Nesta toada observo, por vezes às gargalhadas, como muitos dos que pregam a diversidade de opinião se esganam para impor seus pontos de vista. É assim no amor, na relação social, na esfera profissional e, mais do que nunca, na política.

Com o advento da “era” Lula (pelo inusitado, certamente um evento) passei a rabiscar e divulgar algumas considerações no intuito de registrar, para os mais próximos e não para os próximos, os caminhos e descaminhos de tão incomum personagem e sua turma.

Foi um erro, posto que lulistas e assemelhados vêm “estrangulando” esse pobre escriba com a violência que lhes é peculiar. Recebo inúmeras contraposições, algumas em forma de advertência, outras de ameaças e, outras tantas mais pertinentes, taxando-me de imbecil a pretenso erudito. Os “caras”, mais do que estão, são raivosos.

Como pendo mais para o humor do que para o drama, opto por me considerar um imbecil “tirililico”, um “abestado” comum, e não um pretenso erudito shakesperiano, até porque, pretensos eruditos são, em suma, irreparáveis imbecis. Erudição é coisa para poucos, para gente do naipe de Francisco Buarque de Hollanda (Holanda com dois éles ou lês, tipo Collor), por exemplo, que declarou em ato público de apoio à candidatura Dilma, gostar da política externa do atual governo pelo fato de "não falar fino com Washington nem falar grosso com Bolívia e Paraguai".

De uma senhora, que peno para recordar a fisionomia, recebi um artigo de Leonardo Boff – outro erudito – enaltecendo a tropa e os feitos do governo Lula com base na teologia da libertação, de sua própria autoria. Imbecilmente, penso que devemos nos libertar da teologia, a começar por aquela, como já fez o Vaticano desde o Papa João Paulo II.

Agora, erudição sem precedentes e, portanto, incomparável, encontramos no pronunciamento do Presidente Inácio, em Recife, durante visita a um canteiro de obra ferroviária: “Não pense que é fácil fazer as coisas. Você sabe que a inveja é uma doença. Não há nada pior do que o olho gordo de alguém que não conseguiu fazer uma coisa diante de algo que o outro está fazendo”.

Um amigo garante estarmos diante de “errudição” e não erudição. Não se refere somente ao presidente e sua trupe, mas, também, ao grande escritor, dramaturgo, compositor, músico, cantor, paquerador, futebolista e delinquente juvenil citado em parágrafo acima.

Com a vitória de dona Dilma, estaremos livres de dois bordões eruditos: nunca antes na história desse país e herança maldita. Daqui para frente, se utilizados, afundarão a figura do Pai Inácio, o criador. Cá pra nós, bordão erudito é de doer, não? Entretanto, o que não tem sido de doer neste Brasil recente?

Pois é, falar em Chico implica em letra de música. Na que me ocorre agora, musicada por Edu Lobo, parece que Buarque de Hollanda anteviu o fenômeno da violência que abala o país concomitantemente ao bolsa família que elegeu Dilma e popularizou Lula: “O sangue impresso na gazeta / tem mais inspiração / no bucho do analfabeto / letras de macarrão”.

Quer saber o nome da música? A bela e a fera. Sábios dirão que não entendi nada... Paciência.

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.