domingo, 31 de outubro de 2010

Profeta Gentileza

Perfil

Profeta Gentileza



José Datrino, chamado Profeta Gentileza, (Cafelândia, São Paulo, 11 de abril de 1917 — Mirandópolis, São Paulo, 29 de maio de 1996) tornou-se conhecido a partir de 1980 por fazer inscrições peculiares sob um viaduto no Rio de Janeiro, onde andava com uma túnica branca e longa barba.

Até o final do ano de 1961 viveu como José Datrino, com a família no interior paulista. Mas no dia 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, houve um grande incêndio no circo “Gran Circus Norte-Americano” (vídeo abaixo), o que foi considerado uma das maiores tragédias circenses do mundo.



Neste incêndio morreram mais de 300 pessoas, a maioria, crianças. Na antevéspera do Natal, seis dias após o acontecimento, José acordou alegando ter ouvido “vozes astrais”, segundo suas próprias palavras, que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual.

José Datrino pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio. Plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo em Niterói, local que um dia foi palco de tantas alegrias, mas também de muita tristeza. Aquela foi sua morada por quatro anos.

Lá, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido e Gentileza. Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Daquele dia em diante, passou a se chamar “José Agradecido”, ou simplesmente “Profeta Gentileza”.





Após deixar o local que foi denominado “Paraíso Gentileza”, o profeta Gentileza começou a sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970 percorreu toda a cidade.


Era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Aos que o chamavam de louco, ele respondia:

 – “Sou maluco para te amar e louco para te salvar”.

A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju, que vai do Cemitério do Caju até a Rodoviária Novo Rio, numa extensão de aproximadamente 1,5 km.



Ele encheu as pilastras do viaduto com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização. Durante a Eco-92, o Profeta Gentileza colocava-se estrategicamente no lugar por onde passavam os representantes dos povos e incitava-os a viverem a gentileza e a aplicarem gentileza em toda a Terra.

os murais ficavam a altura dos olhos dos passageiros
dos ônibus que passavam sob o viaduto.

Faleceu em maio de 1996, aos 79 anos, na cidade de seus familiares, onde se encontra enterrado, no “Cemitério Saudades”.

Com o decorrer dos anos, os murais foram danificados por pichadores, sofreram vandalismo, e mais tarde cobertos com tinta de cor cinza. A eliminação das inscrições foi criticado e posteriormente com ajuda da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, foi organizado o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo restaurar os murais das pilastras.

( ESTE É O PROFETA
 / GENTILEZA QUE /
 GERA GENTILEZA /
COM AMORRR E PAZ /
PARA UM BRASIL E UM /
MUNDO MELHOR MEUS
/ FILHOS NÃO USEM PROBLE-
 / MAS USAMOS A NATUREZA )

Começaram a ser recuperadas em janeiro de 1999. Em maio de 2000, a restauração das inscrições foi concluída e o patrimônio urbano carioca foi preservado.

(GUERRA SSO DO GENTILEZA EM 2000 O DIABO DO /
CAPETA QUE VEM DO CAPITAL DOS FILHOS HOMENS PERDE O MANDA /
TO GENTILEZA VAI ACABAR CONTODAS AS GUERRAS DO MUNDO /
COM AMORRR A NATUREZA QUE E O NOSSO DEUS PAI CRIADOR ELE /
NÃO VENDE TERRAS NÃO COBRA PARA NOS DAR ALIMENTACÃO ESTA /
LUZ DO MUNDO NOSSA VIDA E DE TODOS SERES VIVENTES E DE GRA /
CA NÃO COBRA NADA CAPETA SATANA PERDESTE O MANDATO E /
VITORIA DO GENTILEZA PARA UM MUNDO FELIS TODOS VÃO SERE /
NS GENTINS POR JESUS DISSE PROFETA GENTILEZA AMORRR PAZ )

No final do ano 2000 foi publicado pela EdUFF (Editora da Universidade Federal Fluminense) o livro Brasil: Tempo de Gentileza, de autoria do professor Leonardo Guelman.



Em 2001, foi homenageado pela Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio. Além disso, um grande muro no bairro São João recebeu uma linda aplicação de mosaico. E a praça São Pedro, no bairro Albinopólis, foi toda decorada seguindo o exemplo do Profeta Gentileza.

Gentileza foi homenageado na música pelo compositor Gonzaguinha, nos anos 1980; e também pela cantora Marisa Monte, nos anos 1990. As duas canções levam o nome Gentileza.

A canção de Gonzaguinha mostrava uma homenagem ao profeta, como se vê no trecho: “Feito louco / Pelas ruas / Com sua fé / Gentileza / O profeta / E as palavras / Calmamente / Semeando / O amor / À vida / Aos humanos”.



A canção de Marisa Monte, por sua vez, além de incentivar os valores pregados pelo profeta (no trecho “Nós que passamos apressados / Pelas ruas da cidade / Merecemos ler as letras / E as palavras de Gentileza”), retrata os danos ocorridos contra os murais, como diz o trecho: “Apagaram tudo / Pintaram tudo de cinza / Só ficou no muro / Tristeza e tinta fresca.”.