Por André Carvalho (*)
em 07 de setembro de 2010
btreina@yahoo.com.br
Pode cair
Imagine se você estivesse lá, a bordo do avião da British Airways, no voo que partiu do aeroporto de Heathrow, em Londres, para Hong Kong, na noite de terça-feira, vinte e quatro de agosto. De repente, enquanto sobrevoava o Mar do Norte, sua rota, o sistema de som da aeronave emitiu um alerta: “estamos prestes a cair”. Que susto!!!
Segundo a agência de notícias Reuters a tripulação percebeu de pronto o erro e passou a acalmar os passageiros, quase todos aterrorizados. O porta-voz da companhia garantiu que uma investigação será realizada para descobrir se houve erro humano ou falha nos computadores. A British pediu desculpas por haver causado uma “angústia indevida” aos passageiros. Bem britânico, não?
Neste sete de setembro o episódio me faz pensar, de maneira análoga, sobre o Brasil, um mastodonte que, diferente do aparelho da British Airways, voa para destino incerto, por rota alternativa, com escalas bolivarianas, usando um sistema oficial de alta fidelidade que reproduz e ecoa mensagens também falsas, mas de cunho oportunamente otimista. Propaga-se o inverso, mas fazemos um voo acrobático por sobre a história e cego por sobre o retrocesso institucional.
Na qualidade de passageiro, embarcado há mais de cinquenta anos e postado nas fileiras centrais, observo o horizonte à esquerda, antevendo turbulências e um pouso nada suave. Na verdade, viajo angustiado!
Entendo que a segurança do voo se desmilinguiu quando agentes do Estado – jamais saberemos a mando de quem – invadiram o cadastro da Receita Federal em busca de informações sobre concidadãos contrários à manutenção da rota e do plano de voo atual. A partir daí nenhum de nós está livre dos vácuos no escrúpulo dessa gente.
Lamento dizer que a energia necessária a qualquer voo está comprometida pela crise da Petrobrás e que a autossuficiência propalada nos primórdios do governo Lula jamais existiu. Somos reabastecidos em pleno voo, com petróleo importado. O governo tenta, debalde, estabelecer um plano de capitalização da empresa que já deixou de ser a maior do país, em valor de mercado. Depois dos apagões pouco se fala sobre as demais matrizes energéticas...
Afirmo, sem temer o erro, que a comunicação entre comandantes, tripulantes e passageiros está cada vez mais comprometida em sua lisura, verdade e transparência pelas insistentes maquinações para o cerceamento da liberdade de opinião e de imprensa e pelo estabelecimento de canais “oficiais” manipulados pela “elite” petista, governante ou sindical, como é o caso da TV Brasil e do recém inaugurado canal de televisão sindical, respectivamente.
Tremo ao perceber que os controladores de voo, papel que acredito caber aos ministros da Suprema Corte, cambaleiam em sua dignidade, qualidade e ética, mais parecendo participantes de um reality show, muito em voga por aqui. Bate bocas, indicações partidárias, conchavos eletrônicos, votos terceirizados e interferências dos e nos outros poderes são recorrentes, enquanto o voo republicano, democrático e justo perde altura em direção ao reino do autoritarismo e do descaso com a legalidade constitucional.
Enquanto isso, piloto e tripulação se deliciam com o aparente domínio da “máquina”, sem perceber o mau tempo que se avizinha, e informam pelos cinco mil alto-falantes – plagiando Caetano Veloso – viva Dilma, ma, ma, ma, viva Lulinha lá,lá,lá,lá!
Contraditoriamente vou de Chico Buarque: apesar de você amanhã há de ser outro dia...
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.

