quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Nordeste faz parte do Brasil


Por André Carvalho (*)
Em 20 de agosto de 2010
btreina@yahoo.com.br




Vidas amargas
Mais do que alguns ou menos que poucos dos cento e trinta e cinco milhões de eleitores brasileiros sabem quem foi Graciliano Ramos (1892-1953). Nada de errado, em se tratando de um escritor e não de um jogador de futebol ou de um participante do Big Brother Brasil. Graciliano, nascido nas Alagoas, publicou em 1938 o romance Vidas Secas transformado, anos depois, em filme sob a direção de Nelson Pereira dos Santos. Pelo tema contestatório e denunciador da maldita exclusão social da maioria do povo nordestino, filme e livro transitaram e ainda transitam, com desenvoltura, pela borbulhante esquerda brasileira.

Claro que a candidata Dilma, mais cedo ou mais tarde, citaria Vidas Secas, afinal, toda a esquerda o faz, agora de forma envergonhada, porque está cooptada por coronéis daquelas latitudes – Sarney, Barbalho, Collor e os cearenses do Ciro – os quais encarnam, atualmente, os demônios causadores da miséria e da exploração do homem pelo homem.
 
Acontece que dona Dilma, ao comentar o tema da película – parece que a candidata, tanto quanto Inácio, não é dada à leitura – disparou com uma segurança que nos causa insegurança, a seguinte pérola: “Porque Vidas Secas… Tá retratado todo o problema da miséria, da pobreza, da saída das pessoas do Nordeste pro Brasil…”

A candidata líder dissocia o Nordeste do resto do Brasil o que sugere, no mínimo, certo preconceito. Fosse um americano ou um europeu que retirasse a Amazônia, mesmo por ignorância, do nosso território e a esquerda deitaria falação contra o neoliberalismo, os imperialistas, os ianques, e outras bobagens do gênero.

Não posso considerar o caso como mais um ato falho de dona Dilma, porque eles, os atos falhos, são inúmeros ao longo do último ano o que me leva a crer que a candidata é, isto sim, tão atabalhoada quanto despreparada. Tais características não a descredenciam para dirigir o Brasil nos próximos quatro anos, desde quando Inácio, seu tutor, com tanto ou mais destrambelho e despreparo superou em popularidade os maiores líderes mundiais.
 
“Cada povo tem o governo que merece”, disse alguém, nalgum dia. Pois é do povo nordestino que dona Dilma receberá os votos necessários para governar a todos nós, brasileiros. Mais do que nunca o PT conta com esses novos estrangeiros.
 
Com velocidade oposta às obras do PAC, a fala vexaminosa foi retirada do site da candidata mostrando que a turma é rápida em esconder as mazelas, como já fizera com o mensalão, com o doutorado fajuto, com a audiência da Secretária da Receita Federal, com o dossiê sobre a Doutora Ruth Cardoso e com outras tantas excrescências que agora não me ocorrem.
 
Criatura e criador são tanto mais verdadeiros quanto mais simbiônticos e semelhantes forem. Em recente discurso no município de Santa Cruz, no Rio Grande do Sul, o Presidente Inácio afirmou que (sic) nordestino bonito é exceção. Assim, considerando o que pensa a inteligência petista – Dilma e Inácio – deduzimos que os estrangeiros eleitores da primeira, são feios no entender do segundo. A coisa anda mesmo complicada!!!
 
Fazendo troça para amenizar mais uma estupidez Inácio atribuiu a feiúra dos vizinhos “estrangeiros” à fome. Incomoda sobremaneira a dificuldade do fulano em estabelecer relação de causa e efeito.
 
Lula, nascido em Pernambuco, há muito deixou de ser nordestino ao migrar para o Brasil, quem sabe, em busca de uma beleza que jamais contemplará sua ética ou sua cultura, mesmo contemplando sua barba e seu bolso.

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.