segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Entrevista com Angeli

Angeli

Ele não é de oposição nem de situação. É contra a politicagem e o politicamente correto

A Revista Trip publicou na edição deste mes uma entrevista de tirar o fôlego com o chargista, desenhista, cartunista, quadrinista, tirinhista (arghh), criador da Rê Bordosa, da revista (junto com seu amigo de infância Toninho Mendes - sou eu não) Chiclete com Banana - Angeli.



Angeli, a quem outro fera - o Millôr - em um seu artigo Os Normais do Angeli, disse:
"quando ele nasceu, o pai vendo com orgulho o que tinha pela frente, mas não querendo humilhar ninguem com seu orgulho, chamou-o de Angeli. Angeli é anagrama de genial."

E este blog, ou seja nós, também tiramos uma lasquinha, reveja post feito em maio de 2008 para a coleção [A]Mostra de Humor homenageando o próprio, clicando aqui

Vamos agora à entrevista, ao final informo o link para, recomendo, ler a reportagem completa.

Arnaldo Angeli Filho, 53 anos, coloca sua prancheta diariamente a serviço da avacalhação ampla, geral e irrestrita. Homem ou mulher, liberal ou conservador, descolado ou careta, não passa nada. Todos ridículos cidadãos da República dos Bananas, um país imaginário, incrivelmente semelhante a uma certa República Federativa do Brasil, formado por incríveis 28 mil charges políticas e tirinhas de comportamento – boa parte reproduzida na Folha de S. Paulo, onde Angeli publica há 37 anos.

No jornal, é o único nome que frequenta regularmente tanto o caderno de política quanto o de cultura.



Suas charges, que lhe valeram a reputação de mais contundente chargista político do país, saem quatro vezes por semana no espaço nobre da página 2. Suas tiras, crônicas ilustradas de costumes e maus costumes, ocupam diariamente o topo da seção de quadrinhos. Para Angeli, não tem diferença: “Olho da mesma forma para o comportamento e para a política. Nas charges, penso como crítico de comportamento”. Há tempos é assim.

No apartamento de dois quartos onde mora e trabalha, no bairro paulistano de Higienópolis, Angeli conversou com a Trip entre cafés, cigarros e, como ninguém tem mais 20 anos, pães de queijo.



Pendurado na sala, um pôster reproduz uma tira da série “Angeli em crise”. Lá está o avatar do cartunista, olhando a cidade pela janela. No primeiro quadrinho, ele se gaba: “Carros, edifícios, fumaça... Esta cidade eu conheço muito bem”. No seguinte, a cidade retruca: “Babacão, canalha, bicha, mau-caráter, panaca, tarado!”. E o terceiro conclui: “... e ela a mim, é claro”. Angeli zoa até Angeli.

Revista Trip - Seu trabalho mudou a política de alguma maneira?
A política é um pouco mais poderosa, cara. É difícil a visão de um artista, de um crítico ou de um sociólogo mudar isso aí.


RT - E o humor, em geral, muda a política?
O humor muda as pessoas. A política, tenho dúvidas.



Política não é feita por pessoas?

Você chama aquilo de pessoas?!

Você anula o voto?
Já anulei, mas não é uma regra.



Como vai ser nesta eleição?

A seleção?!



A eleição.

[Ri] Realmente não entendo nada de futebol... Mas você perguntou o quê?



Em quem você vai votar na próxima eleição.
Ah, deixa só dizer uma coisa: sou lesado. Minha memória recente não existe. Tem horas em que fico pensando “do que estava falando?!”. Mas você perguntou da eleição...

Em quem vai votar para presidente?

Não sei ainda... O cenário é bom, não tem Maluf no meio, nenhum Sarney. Se bem que o Sarney sempre está em algum lugar...




O que Sarney e Maluf representam?

Sarney ganhou de bandeja o poder, carrega aquela merda toda da ditadura. O Maluf... sou paulistano, qualquer paulistano que pensa tem aversão a ele. É o primeiro dos mauricinhos, perfumado, com corrente de ouro. O movimento da boca dele... [faz uma careta]. Tenho problemas com a anatomia do Maluf.

Já encontrou com eles?

Quando fui homenageado com a ordem do mérito cultural, lá em Brasília, o [senador Eduardo] Suplicy me levou pra conhecer o Senado. De repente, entra na sala do Sarney. Fiquei incomodado. Aí ele levanta e fala, segurando minha mão: “Você é o melhor”. Pra mim foi uma derrota, saí de lá cabisbaixo. Sempre fui cruel nas charges com Sarney, mexi com a família toda, e não funcionou...

E o Maluf?
Também encontrei uma vez, no aniversário de 80 anos da Folha. Fui pego de surpresa, o máximo que consegui foi falar “já fiz muito charge do senhor”. E ele [imitando a voz do Maluf]: “Vai fazeeeendo, vai fazeeeendo!” [risos]. O perfume dele ficou na minha mão... Ele tem alguma distorção mental.




O que você acha da Dilma?

Uma candidata feita às pressas, tirada do nada. Não quer dizer que seja a pior candidata. Com o mensalão, o PT ficou sem quadros, né? A Dilma é uma incógnita, não dá pra saber o que ela é.



Serra?

Serra é o Serra de sempre, centralizador, egocêntrico. Capitaliza até projeto dos outros: “Eu criei tal coisa...”. Depois vem um cara que fala que não, e o Serra diz “mas fui eu que tirei do papel”. Aquele papo...



E a Marina?

Gosto do papo dela. Me incomoda um pouco essa coisa religiosa, mas até agora não vi ela misturar as coisas, como vários políticos fazem. Acho interessante o pensamento dela sobre o meio ambiente.




O pessoal te chama para esses encontros de candidatos com artistas?
Chama. Não vou. Não me interessa conhecer esses caras. Se o cara é meio legal, você acaba gostando dele. Não quero gostar...


Você é do contra?

[Ri] Hum, acho que sou, sim.



Existe humor a favor?

A publicidade faz, eu não consigo. Quando começou o PT, muitos cartunistas começaram a fazer humor a favor. O próprio Henfil [1944-1988] fez. Isso me incomoda. A função do cartunista é alfinetar, levantar discussão.

Para ver a reportagem completa na Revista Trip, clique aqui

E clique aqui para navegar no site de Angeli




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