Por André Carvalho (*)
Escrito em em 28 de julho de 2010
A morte nas ruas, nas compras
O caso Bruno está aí e, para ficar no trivial, é de domínio público. A história mais parece enredo de novela, que parcela considerável da população acompanha, ávida por novidades, em capítulos subsequentes, como se ao final de tudo, um plim plim eletrônico trouxesse de volta as vidas que se acabaram entre mortes, encarceramentos e reputações.
Cooperam para o inconcebível enredo, o acusado com seu sorriso torpe, o delegado com seu “modelito” a lá Jece Valadão, um menor protegido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, um ex-policial ainda influente na base da corporação, um advogado em suspeição, mulheres amantes de cabelos nórdicos e repórteres muletas de apresentadores “datenados”.
A juíza do Tribunal do Júri de Contagem (MG) classificou o caso como "palco de horrores" no despacho em que decretou as prisões temporárias dos supostos envolvidos, agora já indiciados. Falta somente um corpo inerte, quem sabe destroçado, em substituição aos que balouçaram nos movimentos frenéticos de orgias regadas a muito dinheiro.
O desaparecimento ou a morte presumida da amante do ídolo prepotente é resultante da conjunção de vários fatores presentes na sociedade brasileira, a começar pela impunidade sistematicamente defendida, por ignorância, oportunismo ou ingenuidade, pelo atual Presidente da República. A perversa relação entre a obtenção do dinheiro farto e fácil versus a ausência de preparo para seu usufruto é outro dos fatores que elenco, juntamente ao alcance da notoriedade e da idolatria sem a devida competência psíquica cultural.
O povo, com suas manifestações de euforia, enseja ao ídolo despreparado, seja ele atleta, artista ou político – vivemos um caso emblemático – a sensação de poder absoluto, acima do bem e do mal.
Contudo, nada disso espanta tanto quanto o caso de Juliana Cravo, ocorrido dia 23 próximo passado, no interior de uma loja de departamento na zona norte de São Paulo. Enquanto subia a escada rolante Juliana recebeu a cusparada de uma criança que balburdiava no andar superior. Ao questionar os responsáveis pela pimpolha, também protegida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, e agora, de palmadinhas corretivas de qualquer intensidade, foi brutalmente agredida por quatro mulheres, uma delas identificada como tia da petiz delinquente.
Simples como uma cena de novela! Mas Juliana morreu, dois dias depois, em consequência do espancamento: isso mesmo, vítima do espancamento. É inconcebível! Aonde chegaremos com tamanha brutalidade e banalização da vida e da morte?
Analisando causa e efeito, começo a admitir que o estúpido episódio Bruno é até cabível: drogas, dinheiro, torcida imbecilizada a endeusá-lo, amantes em busca de dinheiro e um histórico familiar onde o conceito de cidadania certamente significa “meus direitos” e não “ meus deveres” são mais palatáveis para mim e para o cidadão comum, do que titias “porradeiras” em compras assassinando cidadãs indignadas com a falta de educação reinante na sociedade brasileira. Um assombro!
Enquanto isso, o PAC da segurança, lançado por mamãe Dilma e por papai Lula em agosto de 2007 com o objetivo de reduzir à metade os índices de homicídio, teve efeito nulo quando não inverso, na maioria dos Estados. A meta do programa era alcançar o índice de 12 homicídios por 100 mil habitantes neste ano de 2010. Temos 25 por 100 mil, o mesmo índice de quando o programa foi lançado. Para a Organização Mundial da Saúde, o aceitável é 10 por 100 mil. Acima disso, a violência é tida como epidêmica.
Já não basta a dengue, a meningite, a gripe, e o próprio governo? Morremos a cada dia, todos os dias, dia após dia.
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.

