Por André Carvalho (*)
Em 09 de agosto de 2010
btreina@yahoo.com.br
Aconteceu comigo
Estou falando sério e um pouco envergonhado. Acabo de fazer xixi nas calças o que inclui a roupa íntima e o banco do motorista do meu carro. Garanto-lhes que não ficou mau cheiro! A responsabilidade pelo sucedido é do Prefeito de Salvador, da Organização Mundial da Saúde – OMS – e das concessionárias de automóveis. Está difícil de entender, não é mesmo? Vou esclarecer esse troço:
O Prefeito de nossa cidade, um cidadão chamado João Henrique, mas que não faria a menor diferença se fosse Deoberto, Aniquilato, Imbecilbaldo ou Merdelino, quer proibir seus concidadãos de urinar nas ruas, praças e avenidas, daquela que é, comprovadamente, a mais suja capital do Brasil. Até ai tudo bem!
Se descoberto no ato atentatório ao pudor, o “mijante” vai parar na cadeia e de lá somente se livra após pagar multa. Acontece que o prefeito não instalou sanitários nos logradouros públicos de forma a atender a demanda fisiológica da população que por aqui vive e transita. Aniquilato, desculpe, João Henrique, deve crer que o baiano tem irrestrito domínio sobre os aparelhos digestivo e urinário, mesmo consumindo acarajé, vatapá e sarapatel, sempre regados a muita cerveja.
Não foi meu caso – a cerveja e muito menos o sarapatel – e é aí que entra a Organização Mundial da Saúde no papel de corresponsável pelo meu, digamos, vexame: sim porque ao abrir a porta do elevador, todo molhado, lá estava a vizinha do 901, empetecada tal qual madrinha de casamento, sendo que você, meu caro amigo, não imagina como fui olhado, muito menos o movimento labial que fez a amada criatura. Uma vergonha!
Recomenda a OMS o consumo mínimo de dois litros de água por dia para manutenção de um organismo sadio. Entre beber dois litros de água ou encarar a fila do SUS, prefiro a primeira das alternativas, mesmo com o risco de parar na cadeia ou ser mal falado pelas 287 outras almas que residem no prédio, e que, a esta altura, já sabem do ocorrido.
Em seu restritivo futuro decreto, o prefeito não pensou em nada disso. Aliás, Joãozinho quando se espalha no ato de pensar imagina coisas do arco da velha, o que explica a participação das concessionárias de automóvel no episódio.
Fator decisivo para a catástrofe foi o inacreditável engarrafamento que encarei no caminho de casa. Em vez dos costumeiros dez minutos levei mais de hora, cercado de carros por todos os lados, sem um banheiro sequer para aliviar minha dolorosa bexiga e sem poder usar, por decreto vindouro, um muro amigo.
Aliás, de inacreditável o tal engarrafamento nada tem. Inacreditável é algo inusitado ou que raramente acontece o que não é o caso dos congestionamentos da capital baiana. Estamos nós, os soteropolitanos, rivalizando as marginais paulistas, por conta de outros tantos marginais, que nos dirigem ou que aqui dirigem.
Imbecilbaldo, aliás, João Henrique, afirmou, dia desses, que a responsabilidade pelo aumento exponencial dos engarrafamentos nas vias da antes charmosa Salvador é das concessionárias de automóveis que despejam nas ruas da cidade trezentos novos carros por mês. Em sua análise o alcaide deixa no ar um quarto corresponsável pela minha destemperança: os financiamentos em setenta, oitenta meses.
Na embaçada ótica do prefeito fica parecendo que todo mundo compra carro por conta da facilidade no financiamento, o que, por tabela, paralisa o trânsito da cidade. Só mesmo um “João” para pensar assim!
Em tempo: já tomei um banhinho!!!
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.

