domingo, 25 de julho de 2010

A cara ou o cara do deboche


Por André Carvalho em 22 de julho de 2010



A cara ou o cara do deboche
Sempre ouvi dizer que brasileiro tem memória curta. É uma meia verdade, pois muitos não esquecem o Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, e o culpam por tudo de errado que aconteceu e ainda acontece em sete anos e meio de destrambelho petista. Engraçado como nossa memória é mais aguda quando movida pelo ódio, pela inveja ou pelo rancor. Tenho um conhecido, domiciliado em Brasília, que odeia mais o FHC do que a própria ex-mulher, que, dizem as más línguas, lhe tomou dois terços dos bens numa separação semi-litigiosa.

Dia desses, sentado numa poltrona de base ferruginosa, num elegantíssimo restaurante à beira do lago Paranoá, na capital federal, meu personagem – que é real – sacou de seu celular para, numa conversa inflamada criticar, alto e bom som, as privatizações do ex-presidente, principalmente da Companhia Vale do Rio Doce e da telefonia celular que, no Brasil, à época, mal engatinhava. Hilário e preocupante na medida em que o cidadão em tela se insere nas “zelites” culturalmente ativas do país, funcionário aposentado, que é, de uma importante autarquia. Imagine o que pensam ou, o que é pior, o que acham os demais brasileiros que apenas “bóiam” no contexto cultural!

Minha memória também não é curta, entretanto não está, pelo menos aqui, movida pelo ódio, inveja ou rancor. Está mobilizada, retroativamente como toda memória, pelo deboche. Não o meu e sim o do presidente Lula quando afirmou, dias atrás, que havia – ele Inácio da Silva – resolvido em dezoito horas o que os Estados Unidos da América não conseguiram em trinta e um anos. Referia-se à palhaçada atômica que protagonizou junto com “Marmudinho”, o ditador Iraniano.
 
Se soubesse fazer conta Lula diria que economizou 271.542 horas de negociações. Basta multiplicar as vinte quatro horas regulares do dia pelos trezentos e sessenta e cinco dias do ano e, em seguida, pelos trinta e um anos alegados, desconsiderados, claro, os bissextos e abatendo-se do resultado as intensas dezoito horas em que trabalhou para superar os americanos do norte. Se assim o fizesse, sua descortesia seria mais suave. Falta-lhe, porém, conteúdo e sensibilidade para tanta sutileza.
 
A afirmação do presidente brasileiro é de uma boçalidade tamanha ao ponto de ser encarada pelo mundo civilizado como uma zombaria à diplomacia além de uma descortesia para com o próprio Irã, que pode ser comparado a uma dama leviana, que cede aos encantos de um novo e debochado galante.
 
O resultado aí está: Não existe acordo algum e a comunidade internacional, aquela que realmente conta, intensificou as sanções contra os persas e triplicou as desconfianças quanto a seriedade do Brasil, em sua era petista. Lula passou de o cara para lá vem o cara, tamanho é o desconforto que causa onde quer que se apresente, exceto claro, em seu brasilzão, na Venezuela, em Cuba, Honduras, Bolívia e na África.
 
Em discurso durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, Inácio criticou os países membros do Conselho de Segurança da ONU pela falta de apoio ao seu pacto, e, no embalo, a imprensa brasileira e todos aqueles que usam da força em vez do jeito, que tanto lhe apraz. Parece brincadeira!
 
Claro que meu amigo lá de Brasília, personagem do primeiro parágrafo, não acha, mas seu presidente passou a ser o grande “mala” da história política contemporânea, exceto, em seu brasilzão, na Venezuela, em Cuba, Honduras, Bolívia e na África.
 
Aliás, para quem passou sete anos viajando “de déu em déu” a alcunha mala é um passaporte para a história.

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.