segunda-feira, 15 de março de 2010

André Carvalho questiona a ponte ...

Por André Carvalho
btreina@yahoo.com.br

Publicado no Jornal A Tarde de 10 de março 2010


O QUÊ? A PONTE?
Estamos vivendo, cá por estas bandas, um reboliço arretado com a proposta de construção de uma ponte sobre a Baia de Todos os Santos ligando o continente à Ilha de Itaparica.

Tem gente a favor e gente contra, o que não é de todo bom, muito menos ruim. Acontece que tem gente contra quem é contra e gente a favor de quem é contra, como também tem gente contra quem é a favor e gente a favor de quem é a favor, o que parece ser a mesma coisa, causando uma tremenda confusão, quando não, um disse-que-disse dos diabos.

Há, também, muita gente pegando ponga, querendo acontecer no “pedaço” sem nem mesmo saber sobre ilhas e continentes, muito menos quão profundas são as águas das baias, mares ou oceanos que os separam.

Desconfio, pelo rumo das coisas, que muitos daqueles “todos os santos” já se debandaram faz tempo e, sem a proteção deles, a questão da ponte se transformará num “pepino” infernal.


Uns acreditam que há, tão somente, interesses eleitoreiros na proposta. Outros observam mais os interesses empresariais do projeto, enquanto outros tantos questionam os impactos urbanísticos. Por incrível que pareça, ainda não surgiu a turma do meio ambiente defendendo a intocabilidade de um cardume de piabas que habita as águas turvas da “esgotada” baia.

Em meu inconveniente ponto de vista, considero uma injustiça com os moradores de rua de Salvador a construção de mais de dez quilômetros de ponte sobre o mar. Somente os animais marinhos poderão dormir embaixo dela, o que, convenhamos, não ameniza um grave problema social.

Confesso não ter amor pela ponte. Entendo que devemos rasgar a Baia de Todos os Santos por túnel, como nos países desenvolvidos. O túnel é muito mais adequado à situação.
Primeiro porque as piabas continuarão existindo e se reproduzindo até que a dinamite de um pescador inescrupuloso lhes arrebente as vísceras e segundo porque não se descaracteriza a beleza do lugar, com um monstrengo de pilares e vigas, a exemplo do nosso metrô ou da ponte Rio Niterói, construída pelos generais do golpe de sessenta e quatro.



Acredito, também, que a turma das embarcações – iates, veleiros, “jet-ski” e escunas – prefere o túnel, que elimina o risco da patota soteropolitana, ou insulana, na marotagem, urinar balaustrada abaixo em suas coroadas cabeças.

Além do mais, penso eu, se vamos enterrar dinheiro nessa maluquice, que se enterre de fato, a caráter, insofismavelmente. Cava-se um buraco e pronto!!! Sim. Sim, claro que há chance de infiltrações. O negócio pode molhar para valer dependendo de quanto as gulosas empreiteiras, atrás do lucro não licitado, afinem as paredes do túnel e a qualidade da ferragem e do concreto.

Eu, se governador da era PAC, desempacava de vez e construía um túnel rodoferroviário igual àquele que atravessa o Canal da Mancha ligando a França com a Inglaterra, até porque, “mancha” é o que não falta, literalmente, na nossa baia e, figurativamente, em nossa Bahia.

E tem mais: atirado como sou, aproveitava a oportunidade e ligava o túnel ao metrô mesmo que à revelia do Prefeito. O problema é o ministro não gostar da idéia e segurar os recursos financeiros lá na Capital Federal.

Calma! Refiro-me ao ministro das cidades, até porque, a integração nacional ou mesmo regional, anda de ponta cabeça.

Faça aí, amigo leitor, um exercício de futurologia: meados de 2014, dia seguinte à abertura da Copa do Mundo e antes de um jogo tipo Somália versus Tajiquistão na nova Fonte Nova, a presidente e guerrilheira Dilma Rousseff, em carro totalmente blindado, inaugurando o asfalto crespo do túnel Luiz Inácio Lula da Silva. Que espetáculo, hein?

Brasil: ame-o ou deixe-o!

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.