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Carnaval 2010
Estava meio desconforme para comentar o carnaval baiano neste ano eleitoral, principalmente por haver me prometido não assistir uma cena sequer da folia momesca, fosse ela carioca, pernambucana, paulista ou baiana.
Havia me permitido, somente, acompanhar o carnaval de Brasília, pois imaginava quanto seria emocionante, com o Paulo Otávio governador, o Roberto Arruda na cadeia, o Ministro Marco Aurélio fazendo “doce” sobre o hábeas corpus e o Lula hiper mal intencionado com cinco dias de folga.
Até ontem, sábado à noite, tudo caminhava bem, com as Olimpíadas de Inverno de Vancouver dominando minha telinha durante as 24 horas do dia. Parece até que sou um telespectador fanático, mas não é bem assim.
Moro em Salvador, entre os dois circuitos do carnaval e não consigo sair de casa sem levar um esbarrão, uma porrada, liberar uma grana pro flanelinha, pegar duas horas de engarrafamento e outras tantas curiosidades. Também não consigo ler, pois o ruído dos carros, transeuntes, ambulantes, sirenes, buzinas e lá ao fundo, dos tambores, me tira a concentração.
Erro crasso foi ter zapeado com o controle remoto, na tentativa de variar um pouco a neve da paisagem olímpica. Fiquei prisioneiro deste espetáculo sem par, apreciando o desempenho de quatro grandes estrelas: Dilma Rousseff, Cláudia Leite, Daniela Mercury e Ivete Sangalo.
Mamãe Ivete veio com as pernas, cada vez mais grossas, à mostra, enquanto Daniela colocou seus seios, que pareciam amplos, ancorados num vestido tipo armadura espacial. Só de sacanagem, Claudinha veio mais que coberta, frustrando parte significativa da “galera”.
As três, com os cabelos ao vento, tocaram e cantaram “hits”, gritando frases perfeitas para adestrar macacos: “saindo do chão”, “mãozinha pra cima”, “todo mundo agora”, “tudo mundo pulando” etc.
Bonito foi ver Rousseff, a mais nova afro descendente do Brasil, pelas bandas do Ilê Aiyê, lá no Curuzu. Imagino que desde criancinha D. Dilma, mineira de nascimento e gaúcha por opção, é aficionada por blocos afros. Infelizmente sua vida de estudante, guerrilheira, presidiária, mestranda, secretária de estado e ministra de governo não lhe deu oportunidade de frequentar ou mesmo conhecer tão rica cultura, tão instigante som. Agora como candidata, e certamente convidada, vir ao Ilê foi mais que oportuno.
Interessante também foi observar o tucano paulista Jose Serra com aquela simpatia que lhe é peculiar, todo atrapalhado no camarote da Daniela, jurando paixão pela música e pelo carnaval baiano. É bem verdade que não sabia o nome de nenhum dos artistas do axé, exceto sua anfitriã. Com tanto amor pela folia, Serra bem que poderia ser o rei momo do nosso carnaval, pois nos últimos tempos alegria, simpatia e sobrepeso não mais compõem o perfil do soberano. Neste ano, por exemplo, o quase Viking Pepeu Gomes foi o escolhido.
O carnaval baiano virou ponto de encontro de tudo e de todos. Antes tínhamos somente o dos trios na madrugada da quarta feira de cinzas. Agora acontecem encontros de artistas, cantores, réus e de gêneros diversos: musicais, sexuais e políticos.
Em minha avaliação o mais significativo dos encontros trouxe a educação para o centro do carnaval de Salvador. Geyse Arruda, a estudante paulista, e Jaqueline, a professora baiana, reuniram-se sobre um trio mais que elétrico, o Traz a Massa, e dançaram a coreografia do “Todo Enfiado”.
Certamente uma alusão à qualidade da educação no Brasil.
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.
