quarta-feira, 23 de março de 2011

Especial Déjà vu - "Apagão didático"

Este artigo de André Carvalho foi postado neste blog em 21 de fevereiro de 2009. Em vista dos recentes, e diários, apagões de energia elétrica que Salvador, esta bela mas mal administrada cidade, vem sofrendo regularmente com qualquer ameaça de chuva no horizonte - e as águas de março mal deram o ar de sua graça - resolvi republicá-lo. Continua pertinente.

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 Por André Carvalho (*)
btreina@yahoo.com.br



Apagão didático
O recente ”apagão” que atingiu mais de oitenta milhões de pessoas em dezoito estados brasileiros confirma a máxima do “aqui se faz, aqui se paga” expondo de forma didática como o feitiço pode virar contra o feiticeiro, mesmo sendo este um candidato a deus.


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Em 2001, durante o governo Fernando Henrique, a ausência de chuva nas cabeceiras dos rios secou os reservatórios das hidrelétricas e, como consequência, tivemos uma crise energética de grande monta. A partir daí a questão recebeu um tratamento específico, reconhecido como competente por quem entende do assunto, com o redesenho, inclusive, da nossa matriz energética.

A falta de chuva, circunstância que foge ao controle do homem foi desconsiderada pelo Partido dos Trabalhadores e por seu candidato na campanha de 2002, os quais, cinicamente, depositaram sobre os ombros do governo e do candidato situacionista a responsabilidade pela crise e ponto final. A campanha que elegeu Lula também “gravou” no candidato José Serra a marca de ministro da dengue.

Agora, a rebordosa veio com força, pois jamais o mosquito esteve tão ativo, transformando o Lula, este sim, no “presidente da dengue e do apagão”. Só não podemos falar abertamente porque com os deuses não se brinca. Veja o caso do Caetano Veloso, alvo de patrulhamento por dizer verdades sobre o analfabetismo e a grosseria do “cara”.

Há menos de três meses, dona Dilma, ex titular de Minas e Energia, e agora candidata petista, afirmou não haver possibilidade de blecaute. Para quem pleiteia o cetro, uma bobagem ímpar, até porque se sabia, naquela data, que “apagões” estavam ocorrendo de norte a sul e já ultrapassavam os cinquenta no ano. Isso com chuvas abundantes e termoelétricas em regime de “stand by”. Cabe perguntar: incompetência ou enganação? Como devemos tratá-la durante a campanha? Ministra do apagão ou ministra apagada?

Depois apareceu o Presidente dizendo que estávamos (seu governo) na fase do achismo em relação ao apagão. Com os reservatórios cheios, Inácio da Silva buscava ganhar tempo para entabular uma desculpa convincente que descaracterizasse a incompetência. Caso ainda exista, sua consciência deve estar pesadíssima.

Para fechar a ópera bufa em palco sombrio o Ministro Lobão declarou que o blecaute até que foi bom porque evitou um acidente maior. Lobão deve achar que somos chapeuzinhos vermelhos para acreditar em suas malandragens. Que nariz grande, que orelhas tortas, que olhos míopes, que boca enorme a dizer tolices. No entendimento dele um mal menor a evitar outro maior, no meu, um desentendido a proferir uma grande bobagem. Vá ser estúpido assim no raio que o apague Ministro...

Lula sempre acha que tem absoluta convicção de alguma coisa e tome blá, blá, blá. Na verdade são sete anos de achismo, o que desvirtua o debate sério das questões nacionais. Para a maioria do eleitor brasileiro, questões didáticas são de somenos importância e tendem muito mais para o enfadonho e desinteressante do que para o esclarecedor. Pão, circo, e mais recentemente, uma bolsa ou uma cota, preenchem o universo cognitivo de parte significativa da população.

Haja apagão!!!

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.