sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Giulio Sanmartini: Metendo a mão ...

Giulio Sanmartini
Prosa e Politica

Metendo a mão sem miséria
A Câmara dos deputados transformou-se num covil onde se praticam todos os tipos possíveis de irregularidades: em concursos para admissão, no uso indevido de passagens aéreas, a presença de funcionários fantasmas na folha de pagamento, horas extras pagas a funcionários, inclusive em período de férias, inumeráveis casos de nepotismo e outras de menor monta.

charge de Marco Jacobsen

Agora surge algo novo, um peculato que ainda não tinha sido observado.

Documentos mantidos em sigilo pela Câmara revelam que empresas com endereços inexistentes são beneficiárias de verba indenizatória de R$ 15 mil.

A verba indenizatória é um adicional mensal pago aos parlamentares para despesas relacionadas a sua atividade.

Existe algo como 70 mil notas fiscais referentes aos quatro últimos meses de 2008, que justificaram reembolsos de supostos gastos de deputados federais. Tais notas apresentam endereços fictícios e empresas desconhecidas ou clandestinas.

Os parlamentares que usaram essas notas confirmam que os serviços foram prestados. Um deles é o deputado Marcio Junqueira (DEM-RR), que foi reembolsado mensalmente em cerca de R$ 15 mil pelo aluguel de carros da PVC Multimarcas. A empresa foi aberta há pouco mais de um ano e emitiu ao parlamentar notas de numeração inferior a dez, o que indica que Junqueira seja, talvez, seu único cliente. O proprietário da empresa é Victor Korst, advogado do deputado.

Entre as empresas que mais emitiram notas, para dez deputados e ex-deputados, está a SC Comunicações e Eventos, cujas notas somam R$ 115 mil. De acordo com o documento, a empresa funcionaria em uma casa simples em Luziânia. O dono do imóvel que corresponde ao endereço oficial garante que nele nunca funcionou uma empresa.

O proprietário da SC é o assessor do senador João Durval (PDT-BA), Umberto de Campos Goularte, que explica o endereço inexistente como conseqüência de um erro de seu contador.

Segundo o próprio Goularte, as notas foram dadas por serviços prestados de assessoria de imprensa, atividade para a qual os parlamentares recebem verba específica de R$ 60 mil por mês.

Dessa fétida mixórdia reta uma certeza, os fatos ilegais cairão no esquecimento e os criminosos continuarão impunes. Pobre país.