Por Augusto Nunes
A embalagem de presente de Natal encobre o golpe que não deu certo
"Preparem seus bolsos”, alertou há pouco a apresentadora Sandra Annenberg, na entrada durante a parte regional do Jornal Hoje que antecipou a manchete do noticiário nacional: “A receita federal fará em novembro a maior restituição da história do Imposto de Renda”.
Da redação em São Paulo, a apresentadora Carla Vilhena confessou, com expressão aliviada, que se havia preparado para o pior depois de ouvir o alerta. “Não, essa notícia é boa”, tranquilizou-a Sandra. Como logo saberiam os telespectadores, “serão mais de 2 bilhões de reais beneficiando mais de 2 milhões de pessoas”.
Quem só acompanhou o diálogo pode ter imaginado que o Fisco resolveu surpreender a imensidão de pagadores de impostos com um presente de Natal fora de época. Engano. O que há de bom na notícia é que o golpe federal não deu certo. O que o governo apresenta como a maior restituição da história só não virou o maior calote de todos os tempos porque a perversidade malandra tramada no Palácio do Planalto foi descoberta a tempo, e denunciada pela Folha de S. Paulo.
Se a imprensa parasse de fiscalizar, como recomenda Lula, o país teria ignorado que, para socorrer o caixa esvaziado pela gastança, o ministro Guido Mantega determinou à Receita Federal que adiasse para 2010 restituições que somavam R$ 3 bilhões.
Graças à imprensa e, sobretudo, à reação das vítimas, 2 milhões de pagadores de impostos escaparam. Como o Ministério da Fazenda continua precisando de R$ 1 bilhão, centenas de milhares seguem à espera do dinheiro que lhe pertence, e que terá de cancelar a escala no bolso: servirá para o acerto de pendências atrasadas pelo atraso na restituição.
Quem acha que o governo merece gratidão deve também cumprimentar o senador José Sarney por não ter nomeado nenhum parente em outubro. Ou aplaudir os ladrões que estão assaltando só quem passa do outro lado da rua.

