Por André Carvalho (*)
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Stop com Rolling Stones
Em tempos difíceis, mil novecentos e sessenta e seis, o mundo cantou uma das mais comoventes canções dos tempos modernos, composta por dois italianos, (Migliacci/Lusini) os quais, a história tragou.
“Era um garoto / que como eu / amava os Beatles / e os Rolling Stones...
Cantava viva à liberdade / mas uma carta sem esperar...
Da sua guitarra, o separou / fora chamado na América...
“Stop com Rolling Stones / stop com Beatles songs”...
Mandado foi ao Vietnã / lutar com Vietcongs…-
Ratá – tá tá tá / tatá – rá tá tá ....”
Para melhor fluidez do tema tomei a liberdade de compilar a letra e, mesmo assim, penso que toda a carga dramática se manteve intacta e capaz de mexer com a emoção dos que viveram aqueles tempos.
A estúpida guerra do Vietnã, envolvendo diretamente cinco nações, sufocava o mundo e deitava ao chão, tolhendo suas vidas, milhões de pessoas, aí inclusa uma grande maioria de jovens. No Brasil, uma ditadura militar ainda branda, mas que aos poucos mostraria sua fúria, deitava ao chão a esperança e as liberdades individuais com uma implacável censura à imprensa, às artes, ao movimento estudantil além de um rol de cadáveres.
“Não tem amigos / nem vê garotas / só gente morta / caindo ao chão...
Ao seu país / não voltará / pois está morto / no Vietnã “...
Ratá – tá tá tá / tatá – rá tá tá ....
Jovens soldados morriam em terras asiáticas e voltavam encaixotados ao seu país para, recebidos com honras militares, baixarem aos túmulos. No Brasil morria-se menos, pouquíssimos soldados, nenhuma honra, na maioria das vezes, corpos desaparecidos ou túmulos indigentes.
Passados mais de quarenta anos e o som da metralhadora repica nas comunidades cariocas revelando, desta vez, a guerra que explode o Rio de Janeiro: para o brasileiro comum o Ratá – tá tá tá / tatá – rá tá tá ... nunca foi tão próximo, tão real.
Não se morre tanto quanto se morreu no Vietnã, é verdade, contudo superamos com folga os números da ditadura militar brasileira. Morremos nas escadas, vielas, avenidas, barracos e escolas do que se convencionou chamar, inapropriadamente, de comunidade. Morremos sem convocatória do serviço militar, mesmo estando em guerra. Subtrai-nos, o Estado, este anúncio oficial!
Morremos atingidos por balas disparadas por irmãos brasileiros, num confronto civil que o Estado não reconhece, apesar de preparar suas forças armadas, como declarou o Ministro da Defesa, para atuar como polícia, em áreas de fronteiras, sabidamente o duto dos insumos da guerra. Realista, o Presidente do Supremo Tribunal Federal vai além e defende a participação do exército na área conflitada. Mais balas, mais mortos!
Ataúde sem bandeira, féretro sem honras, gavetas por túmulos e famílias despedaçadas e desprovidas até mesmo da honra de um herói morto a serviço da pátria, porque, para o Estado, apesar de tudo, não há guerra.
Ratá – tá tá tá / tatá – rá tá tá ...
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.