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Análises tendenciosas
Aqui e alhures começam a pipocar regozijos pelo fim da crise financeira que, ao mostrar a cara em setembro do ano passado, abalou o mundo, sem distinguir hemisfério, meridiano e ideologia. Enquanto grandes seguradoras e bancos quebravam, levando consigo milhares de investidores e inúmeros postos de trabalho, os governos intervinham de forma pouco convencional, na esperança de segurar o efeito dominó, catastrófico em qualquer circunstância.
Surgiram então incontáveis mestres profetizando o fim do capitalismo, todos eles ancorando suas profecias, sempre mais consistentes do que suas análises, no supremo deus das esquerdas senhor Karl Marx. Através de um querido amigo, docente da Universidade Federal da Bahia, recebi seguidos artigos nesta linha. Mesmo sabendo da profunda “esquerdização” das universidades públicas brasileiras, não imaginava a que ponto isso chegava.
O filósofo alemão morreu em 1883 e, por mais que sua obra tenha incomensurável valor, as considerações políticas e econômicas lá contidas, distam mais de cem e vinte anos de uma realidade totalmente diferente, que agora vivemos. Não há como comparar universos tão distintos, – o que Marx viveu e o atual – por conta das mudanças geopolíticas, tecnológicas e mercadológicas ocorridas no período. Não existia lá e então, tal como existe hoje, a relação conhecimento x necessidade x capital. Também, não é mais possível rivalizar os “ismos” ideológicos num mundo em que a diferença leste / oeste cedeu lugar, por fadiga do “material”, aos “ismos” religiosos por mais inconsistentes que se afigurem.
Sem perceber, os mestres que assentaram suas alegrias nas teses do alemão cometeram o erro de trazer ao ridículo, com o passar da crise e com a sobrevivência incólume do capitalismo, um personagem fantástico da história da humanidade que estabeleceu o senso crítico ao modelo político econômico dominante à época e o questionamento acerca das relações entre os homens de classes e interesses distintos e conflitantes, dentre outras profundas reflexões.
Devemos, em benefício da sabedoria, tirar Marx da economia e fixá-lo definitivamente num dos pedestais da história da humanidade. O que Marx pensou e disse sobre a questão serviu para um mundo que, após experimentar as opções ofertadas, fechou suas cortinas ao final do século passado. Marx não cabe mais como pomo de discórdia econômica ou ideológica. Por favor, respeitem Karl!!! Não usem seu belo nome em vão.
Importante entender que a crise não acabou com o capitalismo e sim com uns poucos milhares de capitalistas e organizações que alavancaram suas posições, especulando temerariamente. Estes perderam muito dinheiro e carregaram consigo, outros tantos desinformados que acreditavam levar vantagem nas ofertas de crédito fácil e hipoteca inflada, dentre outras inconsistências.
Contestando minha tese muitos dirão que empregos foram extintos. Verdade! A crise, que ora se esvai, tragou um número considerável de postos de trabalho, principalmente nas camadas mais favorecidas da população de um mundo em efervescência aquisitiva. Não mais, todavia, do que nos tirou a industrialização capitalista selvagem da China, cuja “regência”, entretanto, continua comunista.
A questão a ser analisada não é a sobrevivência ou não do capitalismo. Isso é fora de propósito. A questão é entre o bom senso ou sua ausência. Entre a ética ou a ganância. Entre o “ser” ou o ter.
Marx, repouse em paz!
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.

