"Nem que fosse careca o Brasil pode assumir uma meta de desmatamento zero, porque sempre vai haver alguém que vai cortar alguma coisa".
Foi afirmando isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou estar pouco familiarizado com o conceito de desmatamento zero durante a Cúpula entre Brasil e União Européia em Estocolmo, na Suécia.
WWF França
A afirmação do presidente contraria o entendimento de importantes setores da economia nacional – como o do agronegócio, representado pela indústria da soja e os maiores frigoríficos do país – que já incorporaram o esforço de acabar com o desmatamento em suas cadeias de produção.
Inclusive, quatro dos maiores frigoríficos brasileiros, Marfrig, Bertin, JBS-Friboi e Minerva, assinaram ontem um compromisso com o Greenpeace de que não vão mais comprar carne de produtores que desmatam a Floresta Amazônica para cultivar pastos para seu rebanho. De acordo com dados do governo, 80% das áreas desmatadas na Amazônia são usadas para este fim.
O acordo firmado inclui monitoramento do desmatamento na cadeia produtiva e prazos para cadastro de todas as fazendas produtoras. A ONG, que no começo do ano denunciou uma série de produtores, ressalta que a iniciativa está aberta para adesão de outras empresas do setor.
Supermercados e empresas multinacionais de calçados já haviam se comprometido a excluir de sua cadeia de suprimento os fornecedores que contribuem para o desmate. Marcelo Furtado, diretor do Greenpeace Brasil, afirmou que em breve será possível comprar carne com a certeza de que não se está contribuindo para o desmatamento.
O desmatamento zero busca assegurar a conservação da floresta amazônica devido à sua crucial importância na manutenção do equilíbrio climático, da conservação da biodiversidade e na preservação do modo de vida de milhões de pessoas que dependem dela para sobreviver. Uma política de desmatamento zero não impede que árvores sejam cortadas, desde que de forma sustentável.
Ao contrário do que imagina o presidente, o desmatamento zero pretende acabar com o corte raso e a degradação de grandes extensões de mata. O presidente precisa botar seus assessores para fazer contas. Estima-se que em cada quilômetro quadrado da floresta amazônica, existam entre 45 mil e 55 mil árvores com mais de dez centímetros de diâmetro*.
A lógica presidencial, que admite que o Brasil continue derrubando cerca de 3.900 km2 de suas matas em 2020, significa que o país perderá, apenas neste ano, entre 175 milhões e 215 milhões de árvores.
A diferença entre a proposta do Greenpeace e de outras organizações – Instituto Socioambiental, Instituto Centro de Vida, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, The Nature Conservancy, Conservação Internacional, Amigos da Terra, Imazon e WWF-Brasil – de zerar o desmatamento em 2015 e a de Lula, de permitir 20% de desmatamento em 2020, equivale aceitar que nesse intervalo de cinco anos o Brasil perderá entre 800 milhões e 1 bilhão de árvores na Amazônia.
Fontes sustenta.net / greenpeace / geografia em foco / pilordia
