Por André Carvalho (*)
Ropopó
A primavera chegou trazendo alvíssaras para os brasileiros, tão acabrunhados com as barbaridades políticas e com a onda de violência que nos cerca. Entre fintas e gols, “jabs” e diretos dois campeões mundiais, Romário e Popó, filiaram-se a partidos políticos e pensam em concorrer a cadeiras legislativas nas próximas eleições. Partido Socialista Brasileiro e Partido Republicano Brasileiro tem a honra de abrigar em suas fileiras um porradeiro e um goleador, “rapazes de conduta ilibada”, com reais chances de vitória.
A vida de atleta é muito dura e fica difícil, entre treinos, jogos, viagens e lutas, entabular um estudozinho mesmo que em educação física, uma área afim. Quando a carreira acaba ocorre um vazio existencial e financeiro complicado para gerenciar. A melhor opção então é virar político que é muito mais fácil do que ser comerciante, enfermeiro, advogado, geólogo, administrador, professor, motorista, gari, auxiliar de serviços gerais, etc. Nestes casos é necessário estudo ou trabalho e nem todos se dispõem a isso.
Um atleta de ponta, campeão mundial como Popó ou Romário, ganha rios de dinheiro durante sua caminhada. É um dinheiro suado, fruto de um talento específico posto à prova entre murros e caneladas, nocautes e gols. Como políticos, nossos campeões ganharão outra bolada de dinheiro, com verba de representação para aluguel, passagem, correios, paletó, gravata, gasolina e asseclas, sem despender qualquer esforço nem sequer suar a camisa. Dinheiro limpinho, sem imposto de renda retido na fonte como ocorre com o meu irrisório salário. Tem mais, a mamata não atrasa nunca. Bateu o final do mês e a “bufunfa” aparece na conta corrente, diferentemente do meu ilusório salário. Não quero nem falar nas comissões, isso é assunto proibido.
Acredito que se eleitos, Popó e Romário contribuirão significativamente para ampliar o universo da igualdade social que tanto se busca no Brasil. Imagino o boxeador apresentando um projeto de lei criando o “bolsa porrada” para beneficiar o estudante que tenha levado uma sova do companheiro de grupo escolar, por conta da violência que campeia nas escolas brasileiras – fruto da impunidade estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A bolsa forneceria, gratuitamente, pomada e gelo, enquanto durar o hematoma e um par de luvas para possibilitar a revanche. Permanecendo o desequilíbrio em mais de dois confrontos, um estilete e, por fim, canivete de ponta afiada.
Já o goleador Romário poderia apresentar um projeto de lei limitando o pagamento de pensões alimentícias a apenas três rebentos, desde que com genitoras diferentes e a duas crias quando nascidas da mesma “fêmea”. Fora daí o Estado assumiria o “bolsa pensão” corrigindo as vicissitudes da natureza e evitando que pais distraídos acabem na cadeia, por falta de pagamento das pensões, como já ocorreu, algumas vezes, com o “baixinho”.
Não sei se é verdade, mas dizem que o Edmundo, aquela doçura de ser, maldosamente apelidado de “animal”, também aderiu à onda e filiou-se a um partido político. O Vampeta, que entre tapas e beijos “ama” a mulher, também se filiou.
Torço pelos campeões, mas lamento a trabalheira que terá o Supremo Tribunal Federal, ao receber, por conta da imunidade parlamentar, os inúmeros processos que as “figuras” respondem na justiça comum.
Brasil, um país de todos os nós e de muitos réus!!!
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.
