quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Artigo de André Carvalho





Por André Carvalho (*)
btreina@yahoo.com.br








Pagode profissional
Como eperado, a habilidosa Jaqueline trocou a sala de aula, onde alfabetizava criancinhas, pelos palcos do pagodão onde ministrará exercícios sensuais para marmanjos, não necessariamente, alfabetizados. Uma decisão acertada, tomada após profunda reflexão e pesquisa de mercado num “chat” na internet: para Jacki, mais vale uma bunda no palco do que uma banca na sala. É a cara do Brasil!
Ser professora de menininhos e menininhas é a coisa mais sem sal que se pode imaginar. Durante todo o ano os mesmos alunos, a mesma sala, a diretora chata, o salário pouco e os pais dos alunos a torrar a santa paciência da pobre coitada. Agito mesmo, somente quando entra o sindicato e arma uma greve pra lá de “arretada” como se fala aqui por estas paragens.
Na carreira artística a coisa é outra. Veja por exemplo a questão do nome de guerra. Mal trocou de lado e nossa professora virou “Jacki” com cê mudo e direito ao “K”. Na sala de aula não passava de: sôra, pro e tia.
Como professora, Jaqueline tinha grande chance de morrer professora. Agora a levada é outra e, em breve, a voluptuosa pousará de modelo e estará nas páginas de alguma “respeitada” revista masculina, com direito à noite de lançamento e autógrafo.
Se Collor é imortal numa academia de letras – que poderia ser de tretas – sem nunca haver escrito uma linha sequer, por que nossa “professarina” não pode autografar a própria foto, de corpo inteiro e em página dupla, com as partes esclarecidas?
Na entrevista em que anunciou sua opção, a “professarina” declarou que pensa em abrir, no futuro, sua própria escola, já na condição de empresária, evidentemente. Isso claro, após encher as “burras” de dinheiro, dançando freneticamente a “belíssima” canção Todo Enfiado.
Não lembro de ter ouvido qualquer referência à metodologia nem ao público que pretende escolarizar. Percebo que há muito que ensinar e muitos querendo aprender! Todo Enfiado é uma composição do vocalista Mario Brasil, da banda O Troco. Tudo a ver! O Brasil está levando o troco da falta de seriedade com que trata a educação e a cultura, a começar pelo presidente que, reconhecidamente mal educado e escolarizado, profere sandices inacreditáveis, enfiando tudo goela abaixo da população, a minoria estarrecida, a maioria em êxtase.
Jaqueline teve a felicidade de nascer brasileira e nordestina, pois poderia ter nascido afegã e “emburcar” sua existência sem ao menos saber o que é um pagode ou aportar da cegonha numa Islândia abaixo de zero, impossibilitando o uso de uma tanga ou de um minúsculo vestido de oncinha. Aqui as oportunidades são outras!
Quando nascem os brasileiros e brasileiras, seus pais fazem promessas para que as crias possuam talento para jogar futebol, pagodear ou se transformar em modelos, artistas ou dançarinos. Se mulher, desde pequenininha, aprenderá a andar, pé ante pé, enquanto a cinturinha oscila da esquerda para a direita e os seios para cima e para baixo. Caso as pernas engrossem um pouco o palco toma o lugar das passarelas e teremos uma dançarina em lugar da modelo.
A turma cresce falando em atingir seu objetivo o que é resultante da leitura de um ou dois livros de autoajuda. Na verdade, o objetivar significa ganhar dinheiro, muito dinheiro, em troca de quase nenhum esforço intelectual. Exemplos não faltam!
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.