terça-feira, 7 de julho de 2009

Artigo de José A. Gianotti


charge do Santiago,
para o grafar


O excelente artigo de José Arthur Gianotti, publicado na Folha de São Paulo devido 'a sua extensaõ foi dividido em duas partes:
I - Senado, ladeira abaixo e
II - Perpetuação



I- Senado, ladeira abaixo
Aliança entre o coronelismo e grupos emergentes aventureiros dilui chance de punição à corrupção.
Não se trata de mais um caso exemplificando a costumeira corrupção das instituições políticas, ainda que em proporções nunca vistas. É preciso atentar para o caráter específico desta crise do Senado e o perigo que ela traz para a democracia brasileira.
Desde a Antiguidade os filósofos têm refletido sobre a difícil relação entre moralidade e política. Alguns costumam identificar entre elas uma zona cinzenta, quando se torna difícil discriminar se tal ato é moral ou imoral. Somente o tempo, depois que as consequências da ação se solidificaram, permite avaliação final.
Na medida em que a verdadeira política chega a inventar novas formas de vida, é o sucesso ou insucesso da nova iniciativa que termina servindo de critério. Até quando, por exemplo, se devem aturar os desmandos do rei? Quando é legítimo pegar armas contra ele?
Obviamente esses casos são raros e, para que a exceção não destrua a normalidade do jogo político, existe um balanceamento que compensa o ato amoral: se ele for pego e causar escândalo, o amoralista se converte em transgressor e, portanto, deve ser punido.
Noutras palavras, o político inovador assume riscos quando pretende que sua ação se converta num ato original. Ao emperrar esse processo de punição, a política tende para a imoralidade.
Como isso está operando no jogo político brasileiro? Costurou-se uma aliança muito especial entre o velho coronelismo e grupos emergentes aventureiros, que embota a oposição entre aliados e adversários, todos os protagonistas sendo jogados no mesmo caldeirão.
Se todos estão mais ou menos comprometidos, diminuem sensivelmente os riscos da punição prevista.