segunda-feira, 30 de março de 2009

Sobre Lula: o frasista de ocasião. Aliás, de todas!


Por Tutty Vasques, no Estadão

Os humoristas – ô, raça! – devem estar preocupadíssimos com a concorrência de Lula. Sério! Essa dos brancos irracionais de olhos azuis foi melhor ainda que aquela outra dos cabras machos que não pegam gripe.
É preciso reconhecer: esta semana, o presidente esteve numa forma esplêndida. No gênero comédia em pé, francamente, não tem nada melhor na praça. O próprio primeiro-ministro Gordon Brown, que só deu três sorrisos na vida, teve que se segurar pra não rolar de rir num desses espetáculos que o chefe de estado brasileiro fez para recepcionar o colega britânico no Palácio da Alvorada.
Não conheço nenhum banqueiro negro ou índio.” Essa foi demais, né não? Por pouco não inventa uma nova casta, a dos “branqueiros”.
O homem manda uma atrás da outra, tudo de improviso. “Sou o único que já passou fome no G-20.”
Foi engraçado até quando ralhou com a Polícia Federal: “Deixem que nós, políticos, aparecermos na TV.”
É um brincalhão: “Nós queremos gastar dinheiro!” O problema é que a oposição leva tudo muito a sério. Coisa de probo!
Evidentemente que, optando pela veia cômica, o presidente corre sempre o risco de quebrar a cara. O humor, como se sabe, é um território livre que faz fronteira ora com a grosseria, ora com o preconceito.
A graça está em se equilibrar nessa linha tênue que divide uma coisa das outras, sem nunca atravessar os limites da incorreção. Não é fácil! Todo gaiato, na tentativa de levar sua piada ao posto mais avançado da comicidade, já se esborrachou no lado politicamente incorreto da anedota.
Quando isso acontece, o riso dá lugar à indignação. E não só de quem se sente ofendido. É comum nessas ocasiões a platéia reagir com um certo sentimento de pena do protagonista da piada, por mais que ele mereça a zombaria.
Agora mesmo, está todo mundo passando a mão na cabeça dessa “gente branca de olhos azuis” por conta do improviso estapafúrdio que Lula arriscou na última quinta-feira, em Brasília.
O presidente ainda não aprendeu que tem um certo tipo de brincadeira que a sociedade só permite que se faça com as louras, independentemente da cor dos olhos ou tom de pele. No mais, o homem está com a língua afiada para encarar numa boa qualquer um dos rapazes do CQC de Marcelo Tas.
Texto publicado no caderno Aliás deste domingo no 'Estadão'