Escrito por Lineu Barretto (*)
- especialmente para o Pilórdia
Imagine there's no countries…
Perdoem-me por iniciar estes breves e modestos comentários desta semana, utilizando uma expressão em inglês. Ela significa, “Imagine que não há paises...” , e foi dita por John Lennon na música “Imagine”, que para mim foi uma retomada ao espirito “sonhador”, que ele tinha, e que seduzia aos jovens daquela época, e que foi um pouco perdido após a separação dos Beatles.
Por que começo meus comentários com estas palavras de Lennon? É que essa frase nos leva a pensar na tão falada “globalização”, pois foi essa a idéia que o capitalismo liberal tentou criar, mas não de uma forma integral. A derrubada das fronteiras estava limitada somente à abertura de novos mercados. Enquanto os problemas socio-econômicos de cada país, a ele pertencem. Ou seja, era um casamento com comunhão de bens e separação de males.
Um dos fundadores da Escola Clássica da Economia, o inglês David Ricardo, formulou, no início do Século XIX, a Teoria das Vantagens Comparativas, em que cada país deveria se especializar e direcionar a sua produção para aqueles setores que mais vantagens lhe traria, para gerar um excedente que pudesse facilitar a aquisição de bens que lhe seria mais custoso produzir. Creio que, naquela ocasião, início da revolução industrial, em que a Inglaterra despontava como potência mundial, era uma forma de manter cada qual no seu cada qual (resumindo, cada macaco no seu galho), como se fosse uma forma de dizer às colônias, daquela época (inclusive o Brasil), que elas deveriam se especializar nos setores primários, agricultura, pecuária e mineração, enquanto elas, nações industrializadas, se especializaríam no setor secundário, isto é, nós forneciamos as nossas riquesas como matéria-prima barata e eles industralizavam e nos vendiam os produtos acabados a um preço bem mais alto, alegando que era o valor agregado no processo produtivo.
Porém, David Ricardo jamais poderia imaginar o que aconteceria dois séculos depois. Hoje uma empresa que, por exemplo, produz artigos esportivos, fabrica o solado de um tenis em um país, o couro em outro, o cadarço em um terceiro e monta o calçado em um quarto. Talvez isso represente uma maximização da teoria Ricardiana.
Como a “globalização” fracionou o processo produtivo, buscando as “vantagens comparativas” de cada país, como por exemplo, o custo da mão-de-obra dos países chamados de “os tigres asiáticos”, para ganhar uma maior “vantagem competitiva”, foram criados os blocos econômicos continentais (União Européia, NAFTA, MERCOSUL, entre outros).
Só que, para que eles funcionem, as fronteiras entre os países membros devem ser derrubadas. As economias deles devem estar equilibradas, não deve haver reserva de mercado nem barreiras tributárias entre si. Bem como, considerar os seus cidadãos como cidadãos comunitários, assegurando os direitos de ir e vir, de trabalhar e de estudar, independente do seu país de origem.
Hoje, com essa crise econômica global, que estamos vivenciando, os países da comunidade européia, estão se confrontando com medidas unilaterais e protecionistas dos seus mercados e de seus postos de trabalhos. A xenofobia e as discordâncias estão acontecendo entre eles mesmo. O cidadão romeno está sendo discriminado nos países ricos da UE. Para o Nafta, o México é um excelente mercado consumidor, mas o cidadão mexicano tem liberdade para viver nos EEUU? Bem, esse ideal de Lennon está longe de acontecer, pois a lei que prevalece, principalmente nesses tempos de crise, é aquela do ditado popular: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Podemos concluir nossos comentários, com uma questão para discussão, baseada em outra frase de Lennon: “Is the dream over?” (O sonho acabou?). (*) Lineu Barretto é baiano de Salvador e atualmente reside em Salamanca/Espanha onde faz doutorado em Economía de la Empresa, na Universidad de Salamanca.
Perdoem-me por iniciar estes breves e modestos comentários desta semana, utilizando uma expressão em inglês. Ela significa, “Imagine que não há paises...” , e foi dita por John Lennon na música “Imagine”, que para mim foi uma retomada ao espirito “sonhador”, que ele tinha, e que seduzia aos jovens daquela época, e que foi um pouco perdido após a separação dos Beatles.
Por que começo meus comentários com estas palavras de Lennon? É que essa frase nos leva a pensar na tão falada “globalização”, pois foi essa a idéia que o capitalismo liberal tentou criar, mas não de uma forma integral. A derrubada das fronteiras estava limitada somente à abertura de novos mercados. Enquanto os problemas socio-econômicos de cada país, a ele pertencem. Ou seja, era um casamento com comunhão de bens e separação de males.
Um dos fundadores da Escola Clássica da Economia, o inglês David Ricardo, formulou, no início do Século XIX, a Teoria das Vantagens Comparativas, em que cada país deveria se especializar e direcionar a sua produção para aqueles setores que mais vantagens lhe traria, para gerar um excedente que pudesse facilitar a aquisição de bens que lhe seria mais custoso produzir. Creio que, naquela ocasião, início da revolução industrial, em que a Inglaterra despontava como potência mundial, era uma forma de manter cada qual no seu cada qual (resumindo, cada macaco no seu galho), como se fosse uma forma de dizer às colônias, daquela época (inclusive o Brasil), que elas deveriam se especializar nos setores primários, agricultura, pecuária e mineração, enquanto elas, nações industrializadas, se especializaríam no setor secundário, isto é, nós forneciamos as nossas riquesas como matéria-prima barata e eles industralizavam e nos vendiam os produtos acabados a um preço bem mais alto, alegando que era o valor agregado no processo produtivo.
Porém, David Ricardo jamais poderia imaginar o que aconteceria dois séculos depois. Hoje uma empresa que, por exemplo, produz artigos esportivos, fabrica o solado de um tenis em um país, o couro em outro, o cadarço em um terceiro e monta o calçado em um quarto. Talvez isso represente uma maximização da teoria Ricardiana.
Como a “globalização” fracionou o processo produtivo, buscando as “vantagens comparativas” de cada país, como por exemplo, o custo da mão-de-obra dos países chamados de “os tigres asiáticos”, para ganhar uma maior “vantagem competitiva”, foram criados os blocos econômicos continentais (União Européia, NAFTA, MERCOSUL, entre outros).
Só que, para que eles funcionem, as fronteiras entre os países membros devem ser derrubadas. As economias deles devem estar equilibradas, não deve haver reserva de mercado nem barreiras tributárias entre si. Bem como, considerar os seus cidadãos como cidadãos comunitários, assegurando os direitos de ir e vir, de trabalhar e de estudar, independente do seu país de origem.
Hoje, com essa crise econômica global, que estamos vivenciando, os países da comunidade européia, estão se confrontando com medidas unilaterais e protecionistas dos seus mercados e de seus postos de trabalhos. A xenofobia e as discordâncias estão acontecendo entre eles mesmo. O cidadão romeno está sendo discriminado nos países ricos da UE. Para o Nafta, o México é um excelente mercado consumidor, mas o cidadão mexicano tem liberdade para viver nos EEUU? Bem, esse ideal de Lennon está longe de acontecer, pois a lei que prevalece, principalmente nesses tempos de crise, é aquela do ditado popular: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Podemos concluir nossos comentários, com uma questão para discussão, baseada em outra frase de Lennon: “Is the dream over?” (O sonho acabou?). (*) Lineu Barretto é baiano de Salvador e atualmente reside em Salamanca/Espanha onde faz doutorado em Economía de la Empresa, na Universidad de Salamanca.