sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A crise, o vinho e o helicóptero

charge de cesar marchesini,
direto do solda
Por Clóvis Rossi, para a Folha de SP

A crise, o vinho, o helicóptero
Diz pesquisa divulgada ontem pela consultoria Price Waterhouse Coopers que o empresariado ligou o "modo de sobrevivência", que é tudo o que lhes permitiria a crise.
Detalhes do "modo de sobrevivência" do "povo de Davos":
a agência Bloomberg conta que o gerente do Hotel Belvédère, o único cinco estrelas de Davos (e cada uma delas vale por cinco), encomendou para a temporada um lote de vinho Chateau Petrus premier cru, safra 1971. Cada garrafa custa US$ 1.700, ou um tiquinho menos de R$ 4 mil. Com esse dinheiro daria para sustentar por um mês dez trabalhadores de salário mínimo (brasileiro). Reduziria um tico a sangria de 76 mil demitidos só anteontem.
Já o gerente da BB Heli, que faz o serviço de helicópteros entre Zurique e Davos, conta que o "modo de sobrevivência" não impede que continuem a ser feitas reservas em penca para que a turma possa percorrer rapidamente a colossal distância de 147 quilômetros entre Zurique e Davos.
O custo, nesse caso, é bem maior do que o Chateau Petrus: no helicóptero mais potente e, portanto, mais caro, o serviço sai pelo equivalente a R$ 19.869.
Para uma comparação que o "povo de Davos" entende: é rigorosamente o mesmo custo de uma passagem da Swiss entre São Paulo e Zurique (primeira classe, claro, que a "sobrevivência" tem que ter um mínimo de dignidade).
Para uma comparação que eu e você (se não for do tipo Davos) entendemos: a passagem de trem de Zurique a Davos saiu pelo equivalente a R$ 173 (de primeira classe, que eu também mereço uma sobrevivência digna), menos de 1% do preço do helicóptero.
Fico me perguntando se esse pessoal se preocupa, um pouquinho que seja, com o "modo de sobrevivência" dos demitidos pela crise. O que você acha?
Aviso prévio: palavrão não entra neste espaço.