quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Balas Perdidas S.A.

charge de Ykenga.
Pescado do Solda.


Texto de André Carvalho (*).
btreina@yahoo.com.br
Um bom negócio
Certo dia, não muito distante no calendário, um empresário baiano me falava da necessidade de diversificar seus negócios de forma a manter a saúde empresarial diluindo os riscos. Queria minha opinião e não me furtei a dar. Argumentei que o setor de proteção e segurança patrimonial seria uma ótima opção eis que não enxergava, no horizonte de curto e médio prazos, política eficaz para o combate, controle e conseqüente redução da violência urbana.
Reforcei a argumentação sinalizando ser um mercado composto por pessoas físicas e jurídicas, evidentemente abastadas, e, portanto, imunes às crises circunstanciais de uma economia em consolidação. Afiancei ainda serem todos os possíveis clientes, pelo perfil que apresentam, alvos potenciais da mais absoluta e bestial violência.
Blindagem de veículos, de residências e de escritórios, conjugada a alarmes, câmeras de vídeo, portões eletrônicos e cercas elétricas constituíam meu “menu” de produtos para garantir o sucesso empresarial da idéia.

Perdi o contato com tal empresário e certamente não fui ouvido. Pouco importa, mesmo porque, se o questionamento se desse hoje jamais repetiria o conselho. Mudei de lado. Aprendi a mudar de lado com os políticos e com os jogadores de futebol. Ronaldo, fenômeno, fora, lógico.

Se você quer um bom negócio nos dias atuais fabrique munição. Isso mesmo, munição: bala, projétil, cartucho, míssil, granada, dinamite, bomba e coquetel molotov, este, para atender o público menos endinheirado ou saudosamente revolucionário.

Vão dizer que sou maluco. Não é verdade! Se você passar as vistas nos jornais e assistir aos telejornais, saberá que, a cada dia, no Brasil, usa-se mais munição. Nunca se gastou tanta bala e similares. Além das que atingem seus alvos, temos também as balas perdidas. Balas ao léu! Poético e mortal, com certeza.

Interessante neste mercado é a relação bala/vítima. Não se mata mais com um único e certeiro tiro. Como em outros ramos de atividade, os bons profissionais estão em extinção. Muito triste! Cada vítima, agora, consome (consumir é mercadológico) entre três e dez projéteis.
Some-se a isto a característica descartável dos produtos e temos uma demanda fabulosa. Ninguém explode a mesma bomba duas vezes ou usa a mesma bala novamente. Usou, acabou. Só a perícia, assim mesmo quando aparece, aproveita o que sobrou na cena do crime. É um mercado renovável e promissor, assim como o de alimentos. Produziu, vendeu, consumiu, fechou o ciclo. “Just-in-time” como dizem os administradores pós-modernos. Com uma vantagem para o usuário: o prazo de validade é maior.

Bandido, traficante, carcereiro, presidiário, segurança, jagunço, polícia, milícia, exército, e o cidadão comum, porém anormal, são os maiores clientes da indústria que imagino. Um “mix” diversificado com o segmento de bandido e traficante em franca expansão.

É um mercado de abrangência nacional, com uma logística fácil e bem conhecida por qualquer especialista. Claro que parte significativa da produção circulará por estradas e céus brasileiros, até seu destino, de forma clandestina, como outras tantas mercadorias por aí. Não há novidades!

Se houver dúvidas contrata-se aquele “chinês paulista”, o Law Kin Chong, como consultor. São Paulo e Rio de Janeiro puxam a fila dos maiores consumidores. Brasília, Salvador com destaque, Recife na cola e muitas outras cidades brasileiras correm para ocupar seu lugar no tétrico ranking da “balaiada”.

A grande dificuldade é a montagem da equipe de vendas e a definição dos comissionamentos. Neste mercado comissão é coisa séria e, por vezes, resolvida à bala.

Abaixa, abaixa, abaixa!!!


* André Carvalho é articulista free-lancer. Tem artigos publicados neste blog e no jornal A Tarde/Ba.